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HOJE NO
"OBSERVADOR"
África está "a duas ou três semanas"
de uma situação semelhante
à da Itália ou Espanha
Multiplicam-se os alertas em relação à propagação da Covid-19 no continente africano — tão rápida como na Europa. Mas os serviços de saúde estão menos preparados.
Poucas condições de higiene e sistemas de saúde deficitários. Parecem
estar reunidas as condições para transformar o continente africano num
recordista de números no que diz respeito à Covid-19.
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Primeiro foi a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para
África, Matshidiso Moeti, a classificar a evolução de casos da Covid-19
como “dramática”. Depois a secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Vera Songwe, alertou que o continente está a duas ou três semanas de “uma tempestade tão brutal”
como a que atingiu a Espanha e Itália. E agora é John Nkengasong a
corrigir as primeiras declarações sobre o assunto: “Antes disse que era
uma ameaça iminente para o continente, agora digo que é um desastre iminente“.
Ao La Vanguardia, vários
especialistas dão conta que a progressão do vírus em solo africano é
semelhante à que se verificou em Itália ou Espanha — os dois países
europeus mais afetados — e uma ameaça real para os sistemas de saúde já
de si fragilizados. Ainda que alguns países estejam a tomar medidas
rapidamente, como o fecho de fronteiras, travar a propagação da doença e
evitar milhares de mortes parece uma tarefa bem mais difícil.
A
África do Sul, por exemplo, já ultrapassou as estimativas iniciais da
Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres que apontavam para que
em cerca de um mês os países africanos alcançassem cerca de mil casos.
Segundo os dados disponíveis no site wordometers,
a África do Sul já regista 1.353 casos e cinco mortos, tendo o primeiro
caso sido reportado oficialmente a 4 de março. Além das pessoas
infetadas com Covid-19, também os restantes doentes com tuberculose,
HIV, malária ou subnutridos irão ser afetados, com o canalizar de
recursos para tratar os doentes que serão infetados com o novo
coronavírus.
Os campos de refugiados são outra fonte de preocupação. Ao La
Vanguardia o médico guineense especialista em doenças tropicais e
infecciosas, Mamady Traoré, diz que nas regiões do Burkina Faso,
noroeste da Nigéria ou Mali são especialmente preocupantes devido aos
movimentos populacionais que ocorrem em consequência dos conflitos
armados. “São zonas com muita população deslocada e muita violência.
Ali, uma epidemia num campo de refugiados pode ser catastrófica”,
afirmou o especialista dos Médicos Sem Fronteiras.
A
epidemiologista Anna Roca, que trabalha na Medical Research Unit da
República da Gâmbia, dá o exemplo do país: “há apenas duas camas de
cuidados intensivos por cada dois milhões de habitantes”.
Segundo
os especialistas, uma vez ultrapassada a crise na Europa, será a vez
desta estender a mão ao continente africano para que possa ultrapassar
os efeitos da pandemia. Além dos efeitos da saúde e a perda de vidas, as
limitações impostas à circulação enfraquecerão ainda mais a economia
dos países africanos e provocarão o aumento do nível de pobreza no
continente. Situação que, segundo os especialistas, só poderá ser
resolvida “com ajuda externa”.
* África recebe da Europa o Covid 19 num sobrescrito e devolve-o num contentor. Preparem-se.
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