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Deus guarde
Deus guarde
os nossos políticos!
O
devotado e benfazejo Político nutre tanto amor pelos irmãos que,
sacrificando-se, se mantém o máximo de anos possível a ocupar os cargos
que tão penosamente o castigam
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Deus guarde os nossos políticos!
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É
que ser político é uma vida dura de sacrifícios e disponibilidade total
ao bem estar dos concidadãos. Político não tem vida própria. Tudo é
sacrifício, suor e lágrimas em favor da colectividade. São noites não
dormidas para participar em intermináveis reuniões partidárias, para
garantir que elimina todo e qualquer concorrente interno que lhe faça
frente no propósito de servir o Povo. São as campanhas eleitorais, em
que tem de estar de cara alegre para espalhar a boa-nova da cartilha
partidária junto dos infiéis. Tudo para nossa felicidade. São as visitas
eleitorais às cresces, às escolas, aos mercados e feiras, são os
comícios e arruadas, tudo em prol do Povo.
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Deus sabe o que sofre um político, tudo para nosso bem e da Nação.
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E
os sacrifícios a que o Político se sujeita na sua vida privada?
Coitado! Ao invés dos concidadãos, não consegue constituir uma família
normal, em que os Pais ajudam os filhos com os trabalhos de casa, vão às
reuniões na escola, os levam ao judo e ao piano. Os filhos do Político
são abandonados ainda antes, ou logo depois, de nascer, para que o
progenitor possa dar tudo o que tem em nosso benefício. Para cuidar da
coisa pública o Político nem vê os filhos crescer, gozo último da
paternidade. O Político não acompanha os primeiros passos dos rebentos e
dificilmente está presente nas récitas de flauta ou de ballet dos
petizes. As reuniões dos núcleos, das concelhias e secções, das
distritais e nacionais, consomem-no.
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Os estudos e a profissão do
político são as suas filhas enjeitadas. Dedicado à exigente vida
partidária ou ao jugo que lhe é imposto pelos cargos públicos (para que
tenhamos vida), o Político tem de fazer formação "expressa". Daí que
tenha de obter o merecido grau académico fora de horas e sem estudar as
matérias exigidas pelos curricula. Bem queria poder estudar, como os
demais. Mas, por nós, sacrifica o direito a dominar a arte, a ciência e a
técnica. Basta-lhe o título. O mesmo quanto à profissão. Como tudo dá
para que os concidadãos tenham uma vida realizada, lá sofre as agruras
de ter de renunciar à carreira. Quando entra para a política, saiba ou
não fazer alguma coisa, nunca mais cessa a oblação de si mesmo em prol
do todo. Qual voto religioso, passa a servir apenas um Senhor: o bem dos
portugueses. Seja médico, juiz, advogado, jornalista, gestor, por nós
prescinde da própria vida, para suportar o sacrificado ofício de zelar
pela coisa pública.
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O altruísmo do Político vai ao ponto de,
apesar de todos os sacrifícios, nos impedir de o aliviarmos do fardo que
carrega: o devotado e benfazejo Político nutre tanto amor pelos irmãos
que, sacrificando-se, se mantém o máximo de anos possível a ocupar os
cargos que tão penosamente o castigam. É por nós, só por nós, que é
deputado, presidente de câmara, presidente de junta, 20, 30 ou 40 anos.
Mesmo reformado, insiste em servir. E quando não consegue servir-nos num
cargo, assume devotadamente outro. Nos poderes públicos ou nas empresas
deles dependentes. A entrega é tanta que até contra a Lei luta, para
poder manter-se no sagrado ofício. E ainda há quem tenha coragem de
dizer mal do Político. Que blasfémia!
Advogado
IN "i"
23/08/13
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