04/02/2012

INÊS TEOTÓNIO PEREIRA


A subjectividade da doença

A gravidade das doenças dos nossos filhos é directamente proporcional ao nosso nível de stresse. Ou seja, uma gripe pode ser considerada pelos pais uma gripe, apenas um espirro, uma constipação ou uma pneumonia. Depende. Mas não depende da febre, da tosse, das dores de garganta, das queixas, da temperatura da testa ou do nariz. Depende dos pais. Apenas e só dos níveis de ansiedade dos pais.

Normalmente a gravidade, a intensidade da maleita, é também avaliada por outro critério: o da experiência. Ao terceiro filho, qualquer pai, perante um espirro tem tendencialmente uma reacção de desconfiança: “Desta vez não me enganas…” e, obviamente, encolhe os ombros perante os indícios claros de uma pneumonia. Ao segundo filho medimos a temperatura e saímos de casa a meio da noite para comprar remédios vários e vimos em cada farmacêutico um pediatra amigo. Com o primeiro filho é diferente. Com o primeiro filho ficamos em pânico perante uma tosse.

O som da tosse do primeiro é como uma espada que atravessa o nosso coração e nos ensurdece a alma. É o sintoma claro de uma pneumonia – grave – que só o especialista mais brilhante do planeta sabe diagnosticar. A tosse do nosso menino, mais que uma urgência, é um desespero, uma angústia.

E o pior é que este tipo de diagnóstico paternal passa de pais para filhos e de todos os pais para todos os filhos.


IN "i"
20/01/12

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