18/10/2012

LEONÍDIO PAULO FERREIRA




Neste défice a Alemanha 
             está pior que Portugal 

Angela Merkel não tem filhos. E, porém, coube à chanceler ser a principal oradora na conferência que a 4 de outubro debateu o maior problema da Alemanha de hoje: a falta de crianças. Com oito nascimentos por mil habitantes, o gigante económico europeu tem a mais baixa taxa do mundo. E o resultado é um tremendo envelhecimento da população. Mais de um em cada cinco habitantes (20,4%) já passaram dos 65 anos. 

A data escolhida para debater o défice de jovens não podia ser mais emblemática: o dia seguinte ao aniversário da reunificação. Ninguém duvida de que desde 1990 os alemães conseguiram um enorme sucesso como nação, atenuando o fosso com o antigo Leste. Até têm preferido políticos da ex-metade comunista, como Merkel. 

E se os custos da reunificação foram elevados, a verdade é que não travaram a marcha da primeira economia europeia e quarta do mundo: mesmo num continente em crise, as contas públicas estão equilibradas, a balança comercial é excedentária, o desemprego está abaixo dos 7% e até o crescimento de 1% só faz fraca figura porque em 2011 foi de 3%.

Então porque é tão preocupante a escassez de nascimentos no país de Merkel? Porque dura há quatro décadas, enquanto noutros é fenómeno mais recente. Portugal até tem hoje uma fecundidade idêntica à da Alemanha, mas mesmo assim a população idosa anda nos 18,2%. E sobretudo não é possível manter o estatuto de motor da União Europeia quando as previsões dão uma quebra de 17 milhões de habitantes em meio século. A França quer voltar a ser o mais populoso país da Europa Ocidental, estatuto perdido desde a era napoleónica. A Grã-Bretanha também está na luta.

Como Merkel, académica feita governante, muitas alemãs não têm filhos. Os dados do Destatis, equivalente ao nosso INE, revelam que as famílias com filhos são só 29% dos lares alemães. O Estado pressiona as autarquias a criar creches para incentivar à natalidade, mas a resposta é mínima. O adiar do primeiro filho é a regra. O ex-chanceler Gerhard Schroeder só ao quarto casamento se decidiu por adotar duas crianças russas. 

Envelhecida, a Alemanha abre as portas à imigração qualificada. Com 9% de estrangeiros no seu solo, os alemães rendem-se a uma sociedade multicultural por pragmatismo. Mas mesmo assim, para as 800 mil pessoas que se instalaram no país em 2010 houve 670 mil que partiram. É que outras nações tentam também seduzir os melhores profissionais.

A falta de jovens também ameaça Portugal. O Presidente Cavaco Silva alertou para o problema no discurso do 5 de Outubro. E essa é uma crise que a atual crise económica só veio acentuar. O que mostra que apelar à emigração pode resolver os problemas individuais, mas nunca os do País, como o Governo deveria saber. A Alemanha faz o contrário. E há portugueses que irão assim ajudar a primeira potência europeia a atenuar o problema do seu défice... de juventude.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
15/10/12

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