10/01/2020

JOSÉ MANUEL DIOGO

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Sexo e futebol

O Brasil está a implementar políticas para estimular os jovens a deixarem de fazer sexo, mas, se pensarmos bem, usar a abstinência como estímulo é um conceito estapafúrdio. Seria como proibir a bola para melhorar o futebol. 

Os políticos na sua vertigem mediática acabam sempre por ter atitudes que são contrárias ao bom senso. Mas a medida de Damares Regina Alves, a ministra Brasileira da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos é uma delas. Não tem nenhum aspeto positivo, não melhora a vida do povo, não aumenta a popularidade dos políticos e é contra a natureza tropical. 

Para defender isto, a ministra citou "estudos científicos" que definem a espera como alternativa para iniciação da vida sexual em alternativa aos demais métodos de prevenção, mas aparentemente esses estudos fazem parte da propaganda do Partido Republicano dos EUA, e a única evidência científica é a necessidade que Trump tem de conquistar o voto dos fanáticos religiosos americanos.

Um estudo científico independente elaborado pela Society for Adolescent Health and Medicine prova exatamente o contrário. Que os EUA, onde estas políticas são comuns, são também os líderes do ranking de gravidezes precoces e doenças sexualmente transmissíveis. 

Acrescentar a moral religiosa à ignorância popular é uma arma política muito utilizada, porque infelizmente é muito eficaz. Proibir comportamentos por decreto, com base em dogmas religiosos, é uma tentação tão fácil quanto perigosa. Fácil, porque produz o efeito imediato desejado: normalizar a sociedade em torno de um aparente bem comum. Perigosa, porque tem um contra-efeito devastador - ensina a toda a sociedade a mentir.

*ESPECIALISTA EM MEDIA INTELLIGENCE

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
09/01/20

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