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Hoje em dia o que vejo é a direita a caminhar no sentido pós -moderno, isto é, fascizante
Qual é a essência do trumpismo e desta nova (que é velha) direita radical? O pós-verdade, a ideia de que não há uma verdade objectiva acima dos pontos de vista, tudo é relativo, a verdade é oracular, ou seja, uma coisa só é verdade se passar pelo oráculo tribal. Não há um oráculo objetivo e universal.
No início da minha carreira, senti-me sempre mais à direita, porque à direita existia uma resistência clássica contra esta epistemologia relativista. Há uma verdade empírica acima da nossa percepção e narrativa; temos que ir afinando as nossas lentes num processo sem fim de ajuste. E claro que há uma verdade moral universal (direito natural, direitos inalienáveis que nenhum poder ou cultura pode negar).
Mas hoje em dia o que vejo é a direita a caminhar no sentido pós -moderno, isto é, fascizante. É a triste história dos últimos oito anos, talvez mais. E, como fica claro neste partido republicano, não há ali diferença entre realidade e mundos alternativos, entre facto e narrativas e as narrativas mais obscuras são protegidas pela ideia de "liberdade". Só que a liberdade não sobrevive num ambiente onde não é possível determinar com objectividade a verdade. Porque neste ambiente a verdade é determinada pelo poder, pelo oráculo tribal.
Não sei como se volta à base, porque quer a esquerda quer a direita não estão de facto interessadas numa ideia de verdade, por mais humilde que seja.
* Escritor e cronista
IN "EXPRESSO" - 18/07/24 .
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