19/11/2023

BEATRIZ REALINHO

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Insubmissas, combativas
 e militantes

Atualmente enfrentamos um conjunto de crises que se foram agravando: a emergência climática continua a intensificar-se, a crise do custo de vida tem aumentado, num país onde os salários continuam baixos e onde querer uma casa para viver mais parece uma ousadia.

No passado sábado, dia 3 de novembro tivemos a IX Conferência Nacional de Jovens. Chegámos à conferência tal como somos: insubmissas, combativas e militantes. Insubmissas porque somos jovens inquietas com vontade de mudar o mundo, que desejam construir um projeto socialista alternativo, rompendo com todas as formas de discriminação e opressão. Para tal, somos combativas pois queremos estar na linha da frente no combate ao neoliberalismo que ataca as nossas vidas. E enquanto militantes pretendemos construir caminho, em coletivo, através trabalho fraterno e solidário entre as Jovens do Bloco estando organizadas e articuladas umas com as outras.

Atualmente enfrentamos um conjunto de crises que se foram agravando: a emergência climática continua a intensificar-se ao atingir novos máximos em temperaturas e fenómenos climáticos extremos; a crise do custo de vida tem aumentado, num país onde os salários continuam baixos e onde querer uma casa para viver mais parece uma ousadia.

A crise da habitação, que já era sentida há muito ganha hoje outra dimensão, afirmando-se como a principal problemática na vida de cada uma de nós. A inflação continua a reduzir o poder de compra de quem vive do seu trabalho; o aumento incontrolável dos preços das casas e das rendas, assim como a diminuição da oferta habitacional em prol do consumo turístico atiram-nos para esta realidade. Enquanto jovens precárias, sem estabilidade ou perspetiva de progressão futura, com rendimentos que acabam por não chegar para suportar as despesas do dia-a-dia, a crise sentida na habitação obriga-nos a adiar a nossa vida. Mas enquanto estas mesmas jovens, enquanto jovens do Bloco sabemos que ter um teto para morar é um direito constitucional de todas as pessoas. Exigimos: camas onde dormir, tetos sob os quais possamos viver e condições dignas para estudar com o direito à cidade e aos seus serviços.

Sabemos que a luta é também feita nas ruas. Nesta conferência abordámos várias das nossas lutas. Como jovens insubmissas queremos combater o poder patriarcal que procura continuar a silenciar-nos e a inviabilizar-nos nas várias esferas da nossa vida, seja ela individual ou coletiva: nas ciências, na cultura, no desporto, na política, e tantas outras vertentes. Lutamos pelo direito ao cuidado e pelo direito sobre os nossos corpos. Queremos também lutar contra a LGBTQI+fobia tão enraizada na nossa sociedade, através de uma maior participação nas marchas nas mais diversas localidades do país, combatendo assim a discriminação e a lógica mercantilista que se tenta apropriar destes nossos espaços. Somos socialistas, somos anticapitalistas, e como tal recusamos o uso das nossas instituições por parte de uma extrema-direita que procura apenas perpetuar uma política de ódio ao criminalizar o antirracismo. Lutamos por uma descolonização real e efetiva da sociedade.

E para todas estas as lutas é fundamental a nossa organização e atuação no movimento estudantil. Enquanto estudantes somos sujeitos políticos centrais para a reformulação e concretização de um ensino verdadeiramente público e democrático, acessível a todas as pessoas. Este é um trabalho de luta organizada em torno do ensino público de qualidade, no fim da propina, na garantia do alojamento estudantil, no combate aos entraves colocados pelo regime fundacional. E todas as lutas referidas anteriormente têm lugar na luta estudantil, fazem parte dela e também a constroem: o feminismo, o antirracismo, a luta LGBTQI+, a luta climática. Todas as lutas que fazem parte de quem somos: uma esquerda anticapitalista.

Queremos que o Bloco de Esquerda continue a ser o espaço para construirmos e fazermos todas estas lutas. Um espaço plural, democrático, sem medos na defesa daquelas que são as suas bandeiras. Para que tal continue afirmamos o compromisso político de o construirmos em conjunto, percorrendo os caminhos que temos vindo a fazer, nos espaços que ocupamos, nas nossas regiões, nas nossas vidas. Esta é a luta que vale a pena, a luta em que juntas construímos a igualdade, a defesa dos nossos direitos, a igualdade para ser e existir.

* Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”

IN "ESQUERDA" - 11/11/23 ..

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