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HOJE NO
"O PRIMEIRO DE JANEIRO"
"MAPA O Jogo da Cartografia" estreia em outubro
no Mosteiro de São Bento da Vitória
Residentes "discutem a Polis onde vivem"
"MAPA O Jogo da Cartografia" estreia em outubro no Mosteiro de São Bento da Vitória, Porto, juntando em palco centena e meia de comuns residentes das zonas ocidental, oriental, e central da cidade que "discutem a Polis onde vivem".
"Quer então dizer que podemos reconquistar a nossa Invicta?", ouve-se algures ao longo dos cerca de 80 minutos da peça. São as "tribos" das várias zonas da cidade que procuram, sem o fazerem numa otica de queixume, propor o que fazer de melhor pelo e no Porto.
Coproduzido pela PELE - Espaço de Contacto Social e Cultural, Serviço Educativo da Casa da Música e Teatro Nacional São João (TNSJ), "MAPA" é um espetáculo de teatro comunitário onde os intérpretes são atores amadores "recrutados" em cinco grupos teatrais da cidade: Grupo de Jovens AGE, Grupo "As Auroras", do Lagarteiro, Grupo de Teatro Comunitário EmComum, de Lordelo do Ouro, Grupo de Teatro de Surdos do Porto, e do centro histórico, o Grupo de Teatro Comunitário da Vitória.
É uma história, uma espécie de assembleia, uma reunião de pessoas que se propõem fazer o desenho de um novo mapa para a cidade, aliás, e conforme disse à Lusa o diretor da PELE, Hugo Cruz, "se algum político estiver interessado em vir ver [a peça], fica
com
um programa político feito".
A ideia começou a ganhar forma em janeiro deste ano e vê a luz do dia, em estreia absoluta, entre 31 de outubro e 02 de novembro, integrada na programação do TNSJ.
Primeiro foi preciso, descreveu Hugo Cruz, levar as pessoas de cada lugar aos restantes: "Quando isso acontece [o desconhecimento de como é o bairro vizinho] há tendência para se ter uma ideia desvirtuada, ideias pré-concebidas", disse o responsável.
Maria Gil, que pertence ao grupo de dramaturgia e é atriz na peça, contracenando com três filhos - a Mariana, de oito anos e os gémeos Salvador e Vicente, de 13 - confirma a visão de Hugo Cruz: "Este convívio de faixas etárias e de gente de lugares diferentes é uma aprendizagem para os miúdos e ajuda-nos a nós, adultos, a desmontar preconceitos".
"Está a ser giro descobrir o Porto, ver que há tanta gente diferente mas no fundo toda igual", completou Mariana Gil, a mais jovem atriz da peça. Ao lado, José Brochado, de 65 anos, a quem caberá encarnar o papel de um centro histórico "envelhecido e cansado", remata: As pessoas da minha idade são parvas quando não aderem e se recusam a vir aprender com os mais jovens".
Após esta fase, a da "conceção", que incluiu recurso a historiadores, especialistas em realojamentos do Porto, entre outros "peritos", seguiu-se aquele "momento da apropriação, de fazer de um lugar qualquer um lugar nosso", conforme refere a contextualização do projeto que que é cofinanciado pela Secretaria de Estado da Cultura, Direção-Geral de Artes.
Assim, "MAPA" é uma criação coletiva, tendo cabido a Regina Guimarães o papel de "cozer" tudo o que as pessoas queriam dizer, conjugando vozes, encontrando pontos comuns, "mas sem deixar de respeitar a diversidade", garantiu Hugo Cruz.
Nesta peça não cabem os "discursos montados e formatados" e os intérpretes entregaram-se com "enorme generosidade", algo constatável quando se vê ouvintes a "trocar gestos" com não ouvintes em noite de ensaio. É que uma vez que, por iniciativa própria, algumas pessoas procuraram aprender Língua Gestual, atenuando a potencial dificuldade de integração dos membros do Grupo de Teatro de Surdos do Porto.
* Uma acção exemplar dos portuenses que devia ser levada a cabo em todas as cidades do país!
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