26/04/2013

ANDRÉ MACEDO

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E você acredita 
 na narrativa dos "swaps"?

Posso escrever sobre swaps. É o último grito. Os swaps - ou serão as swaps, como as SMS e as profiteroles? - são a última descoberta do país contado pelos media. Têm sido dias loucos. Ficámos a saber não só que existem estas coisas, mas que podemos poupar ou perder muito dinheiro com elas, apesar de serem uma espécie de seguro de crédito. Lembre-se: swaps. O vocabulário é cada vez mais refinado. Se existe um produto financeiro, por hardcore que seja, é natural que ele já esteja a ser comentado por aí. O que antes era assunto no bar do Ritz agora é arma de arremesso nacional. Toda a gente reclama das taxas de rendibilidade, fala de yields, maturidades, exige melhores curvas. Quem disse que a economia não é sexy? Estamos quase todos em pelota...
Os swaps caíram na sopa precisamente neste momento. Que sentido de oportunidade. Que agenda. Agora que isto ia tão bem, com tantos consensos políticos e metas futuras, eis nova maldição socialista. Mais um buraco colossal que Vítor Gaspar nos explicará com sapiência, além de salvar com galhardia - senhores, os milhões que ele nos vai poupar! Os swaps sobem a cartaz dia 30 de abril, no Parlamento, mas os ensaios estão em curso e já todos temos opinião formada, deformada: malditos swaps, enforquem os swaps que antes eram tão bacanos. Certamente nenhum outro país no mundo faz estes negócios, nem banco nenhum, nem empresa nenhuma. E não interessa nada que o assunto esteja nas mãos do Governo há pelo menos três meses, talvez mais tempo. O que interessa é o agora - agora dá jeito. A verdade? A verdade é que andamos no meio de nuvens espessas de fumo - a dívida, o défice, os swaps, amanhã outra cena qualquer. Como se diz na gíria, estamos no vermelho. Mínimos históricos. Não há índices em Portugal, apenas indiciados e suspeitos.
Com tanto swap no ar, ninguém diria que vamos discutir o Estado social já amanhã. Afinal, pode nem ser amanhã, talvez seja noutro dia, noutro conselho de ministros olímpico. Gaspar já não usa argumentos: vence os ministros e o país pelo cansaço e confusão. Nove horas, dez horas, onze horas sempre ali, a dançar, a dançar à volta dos algarismos a ver quem rebenta e cai primeiro. "Os cavalos também se abatem", o filme de Sydney Pollack sobre a Grande Depressão, nos anos 30 - como as pessoas transformam outras pessoas em não-pessoas. Li algures, mas é assim, e por aqui é a mesma coisa. O excel ganha sempre, até quando perde. O Estado social, sim, foi um erro histórico. Agora é trocá-lo (swap) por outra coisa qualquer. Somos junk, man.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/04/13

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