13/07/2020

JOANA GONÇALVES SANTOS

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Porque sim!

Sonhar pode e deve ser o motor da vontade de cada um. Vontade essa livre de preconceitos de género, raça ou etnia, religião ou orientação sexual.

Nos idos dos anos 90, bem segura do que queria, decidi que abraçaria a carreira da magistratura. Todo o percurso que daí para a frente fiz foi na convicção de que alcançaria o meu desiderato.

Não pensei se seria muito jovem ou inexperiente para o fazer, pouco após me licenciar em Direito, pela Universidade de Coimbra, e muito menos se, por ser mulher, tal me seria dificultado. Não foi, efectivamente! Mas, e se outras questões para além do género se colocassem? Se eu fosse negra, cigana ou muçulmana? Nunca pensei nisso!

Mas será que tais circunstâncias se apresentariam como entrave? E nos dias que correm? Colocam-se ou justifica-se sequer serem colocadas?


Há tempos li um artigo e acompanhei uma reportagem de uma jovem estudante de Direito, de etnia cigana, que sonha em ser juíza. O relato auscultado deixou-me as dúvidas que agora me ocorrem. Como pode, nos dias de hoje, este ser um assunto?

Não pode e deve estar ao alcance de um cidadão, responsável e empenhado, alcançar os seus objectivos? Seja branco ou negro, homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, cristão ou muçulmano, ou cigano? Estas são dúvidas que têm, de uma vez por todas, de ser erradicadas!

Quando penso na sociedade em que acredito não penso na diferença, mas na equidade, e essa é a herança para a qual espero contribuir e deixar para a geração dos meus filhos. Uma sociedade que pense em todos e cada um dos seus membros como iguais em oportunidades, respeitando a diversidade das suas experiências e culturas. Uma sociedade enriquecida pelas suas variadas comunidades.

E, nessa sociedade, que começa desde já a trabalhar-se, não pode haver lugar a dúvidas como as que se podem colocar quando se anuncia que alguém sonha em ser juíza, ou médico/a, ou engenheiro/a espacial.

Sonhar pode e deve ser o motor da vontade de cada um. Vontade essa livre de preconceitos de género, raça ou etnia, religião ou orientação sexual. Liberdade essa que todos queremos conquistar no dia-a-dia, nas escolhas que abraçamos e nas oportunidades que encontramos. E isso não é, nem deveria ser notícia ou novidade.

Deveremos, pois, começar por sonhar as possibilidades dentro das possibilidades. Porquê? Porque sim!

IN "PÚBLICO"
12/07/20

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