08/03/2020

LUÍS SENA-LINO

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Notícia fast-food

A alegoria é pobre mas não é por isso que deixa de ser verdadeira.

A velocidade a que hoje consumimos a informação, online e por isso global, não serve de desculpa para que a maior parte dos temas sejam abordados pela superfície e de forma fugaz.

Pior: a suposta atenção dos media sobre um assunto, elegendo um tema para destaque, tão cedo o faz subir às primeiras páginas e abre telejornais como é logo a seguir esquecido e ostracizado, porque trocado por um outro tema. E os temas consomem-se uns aos outros, sucessivamente e banalizando-se entre si.

Tomemos por bons os últimos exemplos: a situação na Venezuela voltou a ser notícia pelas restrições à TAP e num ápice foi esquecida, mas e a situação social e política da Venezuela que há meses abriu telejornais e continua igual; continua esquecida?

Os ataques ao povo sírio não acabaram só porque saíram das notícias; o Brexit agora porque por uns meses já não vende jornais por isso passa para segundo plano? A eutanásia fez do nosso país um espaço de debate sobre a vida e o fim dela na lei, mas já é passado. E o racismo; alguém se lembra do Marega? Foi atropelado na agenda pelo Covi-19.

As agendas mediáticas são influenciadas por diversos sectores com influência no espaço público, de que os partidos políticos, o sistema judiciário ou os clubes de futebol são apenas alguns exemplos em Portugal. Não está certo nem errado, mas é assim que tem funcionado. O espaço público – que nos últimos anos deixou de ser controlado apenas pela media tradicional e está nas redes sociais ao alcance de qualquer de nós – tornou banal e fugaz a eleição dos temas para debate. Se a isto acrescentarmos as “fake news” – que sempre existiram mas hoje têm novos meios de propagação – a mistura é explosiva.

Tomando por válida a ideia de que a falta de informação, muito particular nas ditaduras, não é positiva, o excesso de informação e o comportamento de rebanho da maioria dos media deixam-nos numa espécie de cultura inculta. E, no fim do dia, vivemos num mundo de informação cheia de vazio

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
05/03/20

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