06/03/2019

JOÃO GONÇALVES

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RUÍNAS DEMOCRÁTICAS

O programa de informação "Ana Leal", da TVI, recorre a métodos pouco ortodoxos para as suas rubricas. O que, independentemente da bondade e da utilidade dos assuntos expostos, pode retirar-lhe alguma credibilidade. Apesar disso, os assuntos não deixam de existir e as imagens não deixam de ser factuais.

É, visto com olhos distantes de ver, descontando algum "teatro" e talvez assegurando mais contraditório, conteúdo de serviço público de informação, uma coisa de que a RTP nunca teve o monopólio. Foi nesse programa que ficámos a saber - quem ainda não soubesse ou fingisse que não sabia - que a "superioridade moral dos comunistas" está ao mesmo nível da dos outros partidos. Ali "demitiu-se" um raríssimo secretário de Estado por causa de uma "raríssima" criatura apascentada pelo poder. E, entre outros, tem sido ali que as lamentáveis sequelas de Pedrógão Grande têm sido exibidas sem máscaras. É, por exemplo, incompreensível que não tenha sido ouvida uma palavra sobre a inenarrável prestação do senhor presidente da Cruz Vermelha, o dr. Francisco George, uma figura "consensual" do regime, que, depois do programa, deveria ter ido gozar a justíssima aposentação a que tem direito e da qual ficou liberto para o regime o colocar na CVP. George não fazia a mais vaga ideia do que a casa a que ainda preside andava a fazer em Pedrógão. Irritado por não saber, demitiu em directo a funcionária que mandou para lá e pôs a TVI na rua pelo braço. Em Pedrógão, o anedótico edil Alves, e a sua não menos risível vice-presidente da Câmara, põem e dispõem das coisas doadas para as vítimas de 2017 como se fossem suas. Dos abracinhos nas costas da noite da tragédia até agora, Alves e Cia. foram deixados sozinhos nas suas contradições pelo governo do seu partido e pelo Doutor Marcelo. O PR, aliás, mete dó de tanto "apuramento" solicitado, nesta matéria como quanto a Tancos ou ao BES, a quem já ninguém liga a menor importância. Até o sr. Alves, como se viu na gravação de uma sessão camarária. Depois das banhocas fluviais do Verão passado, Marcelo informou a nação que regressará a Pedrógão em Junho. Como se tal interessasse a alguém e não apenas à sua estafada recandidatura. Uma legislatura que carrega a sombra do inominável desastre material e humano de 2017 deve ser chamada à colação democrática em ano de escrutínios populares. É o opróbrio institucional com rostos bem identificados. Podem fugir das câmaras de televisão, mas não podem fugir do juízo dos portugueses.

* JURISTA E MEMBRO DO PARTIDO ALIANÇA

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
04/03/19

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