22/02/2019

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HOJE  NO 
"DINHEIRO VIVO"
Gene Munster: 
“Faz todo o sentido que a Apple 
compre a Tesla, mas…”

Um dos mais respeitados analistas americanos explica-nos porque é que a Tesla “é demasiado parecida com a Apple” e que inovação nos iPhone só em 2020.

Está habituado a falar, todas as semanas, em algumas das principais estações de televisão norte-americanas e até conhece o CEO da Apple, Tim Cook. O tema típico? A gigante tecnológica Apple, os seus lançamentos, flops, conquistas e passos seguintes. Gene Munster é um dos mais cotados analistas que cobre desde 2004 a marca que tem como ícone Steve Jobs.

O norte-americano que é managing partner da empresa de análise e investimento Loup Ventures, vive na terra Natal de Prince, Minneapolis, nos EUA, mas viaja constantemente pelo país e pelo planeta. Dentro da sua empresa, tem uma equipa de seis pessoas só a analisar a Apple. Na sua pesquisa, usa fontes internas da empresa, “mas a maioria são fontes externas, de pessoas que já lá trabalharam e de outros contactos na indústria”. A sua empresa também faz investimentos focados na tecnologia, “uma ótima área para se investir”, até porque por ali são “crentes no futuro incrível da tecnologia, da inteligência artificial e da robótica”.

Em conversa telefónica com o Dinheiro Vivo / Insider, Munster admite que houve duas grandes histórias antagónicas relacionadas com a Apple em 2018: o facto de ter chegado ao valor de mercado do ‘1 trilion dollars’, um bilião de dólares e, já no final do ano, quando bateu na parede com dificuldades nas vendas do iPhone. “Eles perceberam finalmente qual era o máximo que podiam pedir por um iPhone, chegaram ao céu para o preço depois de terem aumentado o valor normal, primeiro com o iPhone X”, explica Gene Munster. 
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A Apple caiu 15% nas receitas diretas nas vendas de iPhone no último trimestre do ano, mas Munster admite que o crescimento forte nos serviços traz novas esperanças à empresa de Cupertino, que viu essa área crescer 19% no último trimestre, para os 10,9 mil milhões de dólares em receitas (13% do total), num ano onde pode também haver serviços de subscrição de jornais, de gaming e de conteúdos televisivos. 

Tesla faz sentido para a Apple, mas…
Lançamos um desafio ao analista da Loup Ventures: será que a Apple vai mesmo comprar a Tesla, empresa inovadora nos carros elétricos (e semi autónomos), já este ano? E fará sentido isso acontecer para as duas empresas? As duas questões têm como ponto de partida um relatório do banco dinamarquês Saxo, que divulgou o que chamou de ‘previsões escandalosas para 2019’ no final de dezembro, onde falava na possibilidade da Apple comprar a Tesla.

Em janeiro alguns dados concretos deram alguma força a essa possibilidade. Vejamos alguns exemplos favoráveis para que a empresa de Elon Musk possa ser adquirida – pela Apple:

 – Elon Musk admitiu que se encontrou com pessoas da Apple em 2013 para um possível negócio de venda da empresa, no mesmo ano em que a própria Google também chegou a ter um acordo com Musk para comprar a Tesla, que passava por dificuldades na altura. Nem um nem outro avançou, mas já houve aproximações no passado. 
– A Apple investiu já alguns milhões num automóvel, com contratações milionárias, para tentar desenvolver o seu próprio carro elétrico, mas o projeto perdeu força e, em janeiro, houve vários engenheiros da indústria automóvel a sair da empresa. Ou seja, a Apple quer ter uma nova categoria nos seus produtos, a dos automóveis (Steve Jobs chegou a dizer ao New York Times que gostava que houvesse um carro Apple). 
 – 285,1 mil milhões de dólares de dinheiro no banco disponível para gastar é o valor recorde que a Apple tem neste momento; 
 – 52,55 mil milhões de dólares é o valor de mercado atual da Tesla. Se comprasse a empresa de Musk por este valor, a Apple ainda teria 233 mil milhões de dólares no banco de reserva para uma altura difícil. A Saxo Bank estimava em dezembro que a Apple poderia ter de pagar 90 mil milhões de dólares pela Tesla, um valor totalmente ao alcance da empresa. 
 – A Tesla vai ter de se continuar a impor na indústria automóvel e, com o seu cada vez maior crescimento, vai sofrer maior pressão por parte dos construtores tradicionais alemães, americanos e asiáticos que começam a ter cada vez mais modelos elétricos e semi autónomos rivais da Tesla.
 – A Tesla tem mais trabalhadores que já trabalharam na Apple do que qualquer outra empresa nos EUA, indica a Bloomberg. Musk é um assumido fã da Apple e de Steve Jobs, embora tenha pena que a única vez em que conheceu Jobs não teve a atenção que gostaria do líder da Apple.
 Em caso de compra, a Tesla teria acesso ao financiamento garantido da Apple e à sua impressionante distribuição e a Apple teria a tecnologia de baterias da Tesla. Munster admite-nos que “a nível de visão e de oportunidade seria bem possível que uma compra pudesse acontecer”. “Faria todo o sentido até porque ambas as empresa têm a mesma visão tecnológica da mobilidade, com o carro elétrico e autónomo e, na verdade, são empresas tecnológicas com visões semelhantes”, diz o analista norte-americano. 

Além disso, a Tesla “precisa de ajuda e a Apple já esteve interessada em automóveis”. Mas há um grande problema para que tudo possa acontecer: “ambas as empresas têm o seu próprio design como valor máximo e nenhuma quer perder o controlo sobre essa área”. Munster diz que esse “pode parecer um pequeno pormenor, mas faz uma grande diferença”. 

 “Elon Musk é obcecado pelo design e não deixa essa parte para outros, e Tim Cook não compra empresas que não deixem o controlo do design para a Apple”, explica Gene Munster. Daí ser difícil que um negócio aconteça mesmo que faça sentido, “por serem empresas demasiado parecidas”. A hipótese de Musk ser CEO da Apple não tem pernas para andar para Munster, embora Cook seja bem melhor a nível de negócio e Musk ser muito mais focado na inovação (como Steve Jobs era) do que o atual CEO da empresa. 

Quem parece concordar é Warren Buffet, que admitiu o verão passado que a compra da Tesla pela Apple “é uma ideia pobre” porque “a indústria automóvel é muito volátil e a nível de negócio não seria uma aposta certa”. Apesar disso, a Apple nem sempre faz apostas garantidas. A última grande compra da empresa foi a empresa de headphones (e com um serviço de streaming de música), Beats, que custou 3 mil milhões de dólares. Em sentido contrário, ainda esta semana um analista dizia à CNBC que a compra da Tesla pela Apple pode mesmo fazer sentido já em 2019.

 iPhone, para já, sem inovação 
 Já no tema da galinha dos ovos de ouro da Apple, o iPhone, Gene Munster acredita que a Apple vai fazer um pequeno update ao design do novo modelo em setembro, sem grande inovação. “A mudança maior no iPhone será em 2020, com a chegada do telefone 5G da marca”, explica o analista, que admite que a Apple faz bem em esperar até porque ainda falta a rede para alimentar esse tipo de telefones. 

Já os novos AirPods, os pequenos earphones sem fios da Apple que têm sido um sucesso de vendas, só terão a muito aguardada segunda geração em setembro. “O novo serviço de streaming de conteúdos de vídeo deve estrar já este ano, mas com poucas séries, umas cinco em 2019 e uns 25 shows já em 2020”. Munster acredita que será um tipo de serviço diferente da Netflix, com bem menos conteúdos e todos eles originais da Apple. “Já contrataram grandes nomes do cinema e da tv e vão fazer conteúdos mais simpáticos para as famílias, o que não vai ajudar a que sejam assim tão populares”. O analista acredita que em breve vai surgir uma app deste novo serviço de vídeo, com um período gratuito para teste e, depois, uma subscrição, como acontece com o Apple Music.

Mobilidade, o próximo grande passo 
Munster e a sua equipa, como já vimos, são grandes crentes nos benefícios e transformações da tecnologia na forma como vivemos. “A mudança mais óbvia nos próximos anos será na mobilidade. Vamos ter muitos veículos autónomos, incluindo a fazer coisas como recolher o lixo”. Apesar da muita atenção mediática recente para o tema, Munster admite que vai demorar mais do que alguns pensam “por causa dos problemas legais com os carros autónomos”. No entanto, “em cinco anos vamos ter alguns exemplos em locais controlados, mas só daqui a 10 anos é que os carros autónomos vão fazer toda a diferença nas cidades”.
 
* Antropofagia empresarial, na guerra de tubarões paga sempre o mexilhão.

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