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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
08 /01/19
Não há Machado que corte...
1.
Livro: o Pai Natal trouxe-me “Pátria” de Fernando Aramburu. É um
daqueles livros que, quando se abre a primeira página, não descansamos
enquanto não o lemos todo. Uma maneira excelente de entender a questão
basca, as suas tensões, relações, sob a batuta de duas famílias que de
amigas se tornam em inimigas.
2. Disco: o disco vem a propósito
do livro. Dá pelo nome de “Ath-Thurdâ” e é do basco Kepa Junkera que, já
tocou entre nós, aqui há muitos anos. Tem a particularidade de associar
a “trikitixa”, acordeão diatónico basco, ao cante alentejano.
Imprescindível.
3. Não sou diferente das outras pessoas. Todo o
ano faço promessas que, na primeira oportunidade, deixo de cumprir. Pelo
menos, a esmagadora maioria delas. Lembro-me de, em 2013, ter decidido
estabelecer como meta perder 10kg. Fiz o mesmo em 2014: perder, então,
15kg, que era para compensar. Em 2015, a meta era perder 20kg; em 16
subi a fasquia para 25 e em 17 para 30Kg. No ano passado é que era:
perder 35Kg. E esta foi cumprida. Para, depois, dar cabo de parte
dela...
Para este ano, a resolução vai ser a de lutar contra os
padrões físicos impostos por uma sociedade que sobrevaloriza o corpo
sobre a mente...
4. O director do Público escreveu um inenarrável
editorial sobre o facto de na Madeira e nos Açores, Autonomias de pleno
direito com poderes próprios, o tempo de serviço dos professores ir ser
todo contado, ao contrário do que se passa com o não cumprimento da
promessa de António Costa no continente.
Acreditem que não tinha
intenção alguma de escrever sobre este assunto. Mas, todo e qualquer
ataque à Autonomia, é coisa que me mexe com os nervos.
Vou usar um termo que, talvez por desuso, já não utilizava há muito tempo: o director do Público é um “boque”.
Nem
centralista é, pois papagueia incoerências sobre o modo constitucional
como se organiza o país. É aquilo a que nós, os da minha geração, quando
jovens, chamávamos um “boque”.
Um “boque” é alguém que não sabe do que fala. É um tonto.
Não
consegue perceber que, se este país tem duas classes de professores,
onde eles são destratados não é nas regiões autónomas, é no continente e
pela mão do Governo Central.
O “boque” não entende que quem está errado é António Costa que nem o apoio dos companheiros de Geringonça consegue ter.
O “boque” é um “boque” porque olha, mas não vê.
É um “boque” porque, mesmo com as coisas à frente do nariz, não consegue concluir.
É um “boque” e pronto.
5.
A Agência Abreu produziu um excelente catálogo para vender o produto
Madeira. Na capa, uma das paisagens mais bonitas da ilha grande,
Boaventura salvo erro, em dia não. E em dia não porque mostra a falésia
sobre um mar todo sujo de terra, produto de um aluimento ou de algo
parecido. Dentro da publicação, há dezenas de fotografias que mereceriam
muito mais uma chamada de capa do que a escolhida. Enfim.
6. Num
dos seus primeiros discursos como ministra da Mulher, Família e
Direitos Humanos, e com uma única frase que define ao que vai, a
evangélica Damares Alves diz alto e bom som que está “inaugurada agora
uma nova era no país, em que menino veste azul e menina veste rosa”.
“Eta, bendito pé de goiaba”...
7.
Sim, eu sei da vida sofrida da senhora ministra. Da infância terrível
que deve ter tido, do que sofreu. Conheço algumas pessoas que têm
histórias de vida pavorosas. E, precisamente por isso, não gostaria de
ver algumas delas como ministras do meu país. Tomara que me engane.
8.
A ministra do Mar anda a enrolar coisas importantíssimas relacionadas
com o Centro de Registo de Navios, há mais de dois anos. Uma dessas
coisas, é a legislação que urge no sentido de permitir que embarcações
com registo na Madeira possam ter guardas armados a bordo. Nem de
propósito, o MSC Mandy foi atacado por piratas, ao largo do Benin. Não
sendo o caso do Mandy, a MSC tem navios registados aqui. E isso podia
ter acontecido com um deles.
A Ministra do Mar vem aí para uns
tais de Estados Gerais. Há quem ande a criar a expectativa de que vai
anunciar o desbloqueamento do ferry, o ano inteiro. Tenho para mim que
não irá além de papaguear o que está nas Grandes Opções do Plano.
Que
nessa assembleia haja alguém com coragem para a confrontar com o que
não resolve. É que, esta política do “nem coisa, nem sai de cima”, já
começa a provocar urticária.
9. Entretanto, a bordo do Lobo Marinho vendem-se frasquinhos de areia da Ilha Dourada por 3,95€...
E,
no Porto Santo, um inédito protesto contra o facto de a ilha ficar sem
ligação marítima durante cerca de um mês. É bom ver que as pessoas
começam a reclamar sobre o que está mal. É um direito e um dever.
10.
O Indignómetro andou ao rubro por causa da ida de Mário Machado ao
programa do Goucha. Até os que evitam indignar-se se indignaram. E eu,
aqui, sem me sentir indignado. Eu sei que ele foi condenado por ter
participado na morte de Alcino Monteiro. Eu sei que ele é racista e
xenófobo. Como também sei que agora procura branquear aquilo que é e que
não vai deixar de ser.
Já o escrevi, aqui, várias vezes que
gosto de ter os meus amigos por perto e os meus inimigos ainda mais
perto. Mário Machado é um inimigo da democracia. Não gosto do que ele
representa, do que diz, do que defende. Ele, se pudesse, não me deixaria
nunca dizer o que penso e defendo. Eu, porque sou melhor do que ele,
acho que tem o direito de dizer as barbaridades que quiser. Se, e por
via disso, cometer alguma ilegalidade, que a justiça se pronuncie sobre
tal.
Se o impedirmos de deitar cá para fora as diarreias mentais
que se lhe contorcem na cabeça em espaços como a televisão, ele fá-lo-á
na mesma em inúmeros grupos e páginas das redes sociais, onde não há
direito de contraditório, porque se o fizermos os comentários são
apagados e levamos com um bloqueamento em cima. E depois, de repente,
fica tudo espantado quando estas porcarias ganham força e se reproduzem.
A
democracia tem, em si, uma superioridade moral sobre esta gente que
lhes permite fazer aquilo que eles, se puderem, nos impedirão de fazer.
Se lhes respondemos do mesmo modo, em que é que somos diferentes?
Do
que tenho mesmo medo é de quem, ao defender limites à liberdade de
expressão, permita que construamos uma sociedade asséptica, onde as
pessoas não ouçam o que as incomode; a sociedade perfeita da
normatização e da normalização. A liberdade de expressão não pode ter
limites, por maiores que sejam as perversidades ditas, sob pena de, um
dia, também a mim me calarem, por acharem que o que eu digo não deve ser
ouvido. E tenho a certeza de que, neste preciso momento, alguém me está
a ler e a pensar: “e se estivesses calado, oh palhaço!”. E ponto.
É
isso que defende a tal pretensa frase atribuída ao Voltaire, “O Direito
a Ofender” do Hume ou o Stuart Mill quando escreve que os problemas da
liberdade só se resolvem com mais liberdade.
11. “É pois evidente
que quanto mais o Estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais
risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando” –
Fernando Pessoa
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