14/01/2019

INÊS CARDOSO

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Política ou politiquice

Os 18 minutos em que Luís Montenegro se apresenta para combate no PSD foram cuidadosamente construídos para empolgar e fazer valer argumentos.

É certo que todos facilmente rebatíveis: sondagens sem idas a voto são meras perceções e é difícil alegar que se pretende unir um partido cavando ainda mais o fosso que o divide, em vésperas de eleições. 

Em política, as justificações valem o que valem. Não é fácil encontrar outro detonador para a decisão de Montenegro que não seja a luta para formar as listas à Assembleia da República, esse momento em que a corrida a um lugar torna mais evidentes os interesses e disputas dentro de todos os partidos. Por isso cada um ouve o que quer nas palavras de Montenegro, nos dedos apontados às (mais do que evidentes) falhas de Rui Rio, nas preocupações com o interesse do país e com a lealdade da sua intervenção.

Nesta disputa por poder, o PSD está entalado entre um presidente que não soube ouvir os seus nem falar para as pessoas e um candidato a líder que parece pouco interessado em medir o prejuízo que esta divisão pode causar ao partido. Entre os que rejubilam com a perspetiva de mudar e os que, mesmo criticando o desastre do último ano e a falta de oposição a Costa, consideram o timing do ataque desajustado. A fratura está para durar.

Perde o PSD, claro. Mas perde igualmente o país, porque numa coisa Montenegro tem razão. O país precisa de uma oposição como deve ser, quando o Governo já vai embalado a fazer campanha. E precisa, mais ainda, de vida política e de mobilização para além dos partidos, máquinas sedentas de poder em que o sentido de causa pública conta muito pouco. É nestas alturas que sentimos que a política, como ação atuante de cada um em função de todos, está muito distante daquilo que diariamente se joga em seu nome. Podemos sempre rir perante os golpes palacianos e as novelas de corredor. Mas talvez o assunto seja demasiado sério para isso.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/01/19

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