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ESTA SEMANA NA
"FOLHA 8"
Fartura de promessas
A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola promete (e prometer é palavra de ordem do MPLA há 43 anos) afinar a cooperação judiciária internacional com a criação de um “gabinete específico” para o acompanhamento do repatriamento coercivo de capitais.
“O
repatriamento de capitais está muito ligado à questão da recuperação de
activos, no interior ou exterior do país. É aí onde teremos de focar a
nossa actividade, pelo que vamos criar um gabinete específico para
isso”, disse esta quinta-feira o PGR, Hélder Pitta Grós.
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Pitta
Grós falava aos jornalistas no final da cerimónia de cumprimentos de
fim de ano daquele órgão, no Palácio da Justiça, em Luanda. O
responsável adiantou que existem já “contactos avançados no domínio da
cooperação judiciária internacional”. “A partir de Janeiro e Fevereiro
já teremos trabalho para ser realizado, que já começou a ser preparado
há alguns meses”, adiantou.
Para
o repatriamento de capitais, o Governo definiu um “período de graça” de
seis meses, que terminou, precisamente, na quarta-feira, e, segundo as
autoridades, o período que se segue é de “repatriamento coercivo”.
Hélder
Pitta Grós indicou que o órgão que dirige já trabalha desde que os
diplomas legais que versam sobre a matéria foram aprovados, porque,
assinalou, a PGR “tinha consciência de que não haveria por parte de toda
a gente o cumprimento da lei dentro dos prazos”.
“E
a partir daí, começamos a fazer diligências para capacitar-nos e
podermos agir de imediato, por isso estamos a trabalhar nesse sentido de
então passarmos à segunda fase”, adiantou.
O
“aprimoramento dos recursos humanos” é uma das acções a serem
desenvolvidas pela PGR de Angola em 2019, realçou, com “formações
específicas” em matéria de combate à corrupção.
O
PGR deu conta igualmente de que a partir de Março do próximo ano
“poderão ingressar mais magistrados” naquele órgão judicial. A alteração
da Lei Orgânica da Procuradoria-Geral da República, “para se adequar à
actual realidade do país”, também faz parte dos desafios da direcção da
PGR para 2019.
Ter (muito) cuidado com o que diz
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Recorde-se
que o general Hélder Pitta Grós, na sua qualidade de Procurador-Geral
da República, afirmou no passado dia 16 de Novembro que a falta de
verbas estava a condicionar a cooperação internacional e o cumprimento
de diligências como cartas rogatórias.
Hélder
Pitta Grós falava nesse dia na Assembleia Nacional do MPLA num encontro
entre as primeira e décima Comissões de Trabalho Especializadas e
representantes do Tribunal Supremo, Tribunal de Contas, Tribunal
Constitucional, Tribunal Supremo Militar e o Ministério da Justiça e
Direitos Humanos, no âmbito da (suposta) apreciação do Orçamento Geral
do Estado (OGE) para 2019.
Segundo
o Procurador-Geral da República, “os novos ventos, que este ano
surgiram”, levaram a Procuradoria a realizar actividades inéditas que
tiveram de ser feitas “com ou sem recursos”. É obra, reconheça-se. Fazer
“actividades inéditas” e ainda por cima “sem recursos” não é para
qualquer um. Bravo, general Hélder Pitta Grós.
“Não
deixamos de fazer o nosso trabalho porque não tínhamos recursos”, disse
Hélder Pitta Grós, para enumerar as dificuldades por que passam para a
execução das actividades.
“Temos
outros técnicos que trabalham connosco, trabalham um, dois meses, a
ordem de saque não é paga e ele vai embora, porque diz que não está para
trabalhar de borla”, disse o PGR. Então como é senhor Presidente da
República? Então como é senhor Titular do Poder Executivo? Então como é
senhor Presidente do MPLA? Assim não vale! Trabalho escravo, só mesmo
para os angolanos de segunda.
A
situação repete-se com “os próprios investigadores, os magistrados”,
apontou Hélder Pitta Grós. Num Estado de Direito, que é algo que Angola
(ainda) não é, o PGR seria demitido (já que, reconhecidamente, não tem
coragem para se demitir) ou o Presidente da República (João Lourenço)
viria a público – numa comunicação ao país – pedir desculpa e reconhecer
que, afinal, um ano depois só mudaram (algumas) moscas.
“Eles
trabalham o dia inteiro, de manhã até à noite, e têm de tirar do seu
bolso, precisam de comer, de fazer telefonemas, têm de pagar o seu
saldo, têm de tirar fotocópias e utilizam o seu dinheiro para isso.
Portanto, temos de saber bem aquilo que a gente quer. Temos não só de
combater os crimes, como também de fazer a prevenção, e a prevenção
também custa dinheiro”, disse Hélder Pitta Grós.
A
PGR conta também com a cooperação internacional, que tem sido
fundamental, segundo o magistrado, tendo exemplificado que, em 2017,
registaram um total de 124 cartas rogatórias nos dois sentidos –
recebidas e enviadas.
“Até
Setembro deste ano, já estamos em 300, e isso também é dinheiro, porque
as cartas rogatórias têm de ter tradução, de ter fotocópias. Muitas
vezes temos de buscar especialistas para nos ajudarem, porque não
podemos ver a cooperação judiciária só num sentido, dos outros para
connosco. Nós também temos de dar alguma coisa e sentimos isso, às
vezes, quando temos contactos com algumas entidades no exterior, em que
nós procuramos informação”, referiu.
“Eles
perguntam: ‘e vocês o que têm?’ A cooperação judicial não é só ir
buscar, tem de se receber e ir buscar e quanto mais se dá, mais se
recebe. Se não se dá nada, não se recebe nada e isso é dinheiro”,
frisou.
Hélder
Pitta Grós disse estar ciente das dificuldades pelas quais que o país
passa, mas espera alguma abertura do Ministério das Finanças. Bem pode
esperar sentado, o que certamente fará num cadeirão cómodo e bem
estofado. Nem o ministro Archer Mangueira nem o Presidente João Lourenço
estão interessados em resolver este e milhares de outros problemas que o
MPLA criou ao longo dos últimos 43 anos.
“Temos
consciência de que o dinheiro é pouco, mas, se trabalharmos em conjunto
com o Ministério das Finanças, podemos ver a melhor forma de gastarmos o
pouco que existe. Agora, quando apresentamos uma proposta e depois
recebemos a contraproposta, sem termos sido ouvidos, da forma como é
feita, dificulta um bocado todo o exercício que se queira fazer”,
lamentou.
* Falta muita democracia para cumprir promessas.
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