17/10/2018

MARGARIDA BALSEIRO LOPES

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Pinhal de Leiria

Assinala-se esta semana um ano desde que um incêndio como não há memória devastou mais de 9 mil hectares de Mata da região centro e ceifou mais de 7 séculos de história do Pinhal de Leiria, reduzindo-o praticamente a cinzas. A conclusão dos peritos de que será necessário mais do que um século para voltarmos a ter o Pinhal do Rei como existia antes do dia 15 de Outubro de 2017 aumentou o sentimento de comoção com esta perda da maior mata nacional.

Para os de cá, os dos concelhos que desde sempre se habituaram a viver e a crescer com o Pinhal, a perda foi enorme. Desde a celebração do dia da espiga, a volta aos 7, passando pelo Samouco, entre muitos outros recantos, são muitas as memórias que nos prendem ao Pinhal de Leiria e que ajudam a explicar as iniciativas mais ou menos organizadas que de imediato se seguiram ao dia 15 de Outubro de 2017. E não nos esqueçamos que o Pinhal de Leiria era considerado um exemplo de ordenamento florestal.

Lamentavelmente, um ano depois pouco ou nada aconteceu para reparar o estado em que ficou o Pinhal de Leiria. Se os especialistas apontam para que sejam necessários 150 anos para voltar a ver o Pinhal conforme estava antes da tragédia do ano passado, a sensação de quem olha para o Pinhal de Leiria nos dias de hoje é que 2018 foi um ano perdido para o objectivo ambicioso e de tão longo prazo que temos pela frente. Junta-se a isto a crónica falta de meios a que o Governo não dá resposta. Como reconheceu o próprio presidente do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, há pelo menos 30 operacionais e mais um técnico superior em falta no Pinhal de Leiria. Acresce ainda a preocupação com as espécies invasoras que cada vez mais ocupam de forma mais preocupante o território.

Mas há mais. Desde as estradas da Mata que continuam conforme foram deixadas pelo fogo, cortadas, as casas dos guardas florestais que continuam queimadas, aos pinheiros que por lá ficaram. Salva a honra do convento os vários casos de iniciativas de responsabilidade social que foram já contribuindo para a reflorestação, como é o caso de algumas empresas e pessoas particulares que se associaram a esta causa. Mas estas acções, infelizmente, são uma gota no oceano, se olharmos para os 11 mil hectares que compõem a Mata.

O que não se pode, de todo, permitir é que a inação (ou a incompetência) vá protelando no tempo a urgente reflorestação do nosso Pinhal de Leiria. O mesmo Estado que é tão diligente a assacar responsabilidades e a pedir a ação dos privados, tem de aqui dar o exemplo relativamente a um dos ex-libris da nossa região, o Pinhal de Leiria. É um Estado que pede muito aos outros, mas que faz pouco. Um ano depois o cenário continua a ser desolador.

IN "SÁBADO"
15/10/18

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