16/12/2017

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ESTA SEMANA NA 
"VISÃO"
Ilhas de lixo e plástico podem 
vir a ser consideradas país

Seis vezes maior que Portugal, já tem bandeira, moeda, selos e passaportes. Será que as ilhas do lixo e do plástico vão ser um estado soberano e entrar para a ONU?

Gostaria de ter uma nova nacionalidade em poucos segundos? Simples. Basta que vá ao mais conhecido site de petições do planeta (change.org) e, em teoria, torna-se cidadão de pleno direito do país que pretende ser admitido como o 196º estado membro das Nações Unidas. Bizarria? Nem por isso. 



O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, já recebeu um pedido formal para que as Trash Isles, as Ilhas do Lixo, sejam admitidas na organização e várias personalidades estão desde junho envolvidas numa campanha internacional com esse propósito. Al Gore, o antigo vice-presidente dos EUA e um dos mais conhecidos ativistas ambientais da atualidade, foi o primeiro indivíduo a quem foi concedido um passaporte deste país imaginário mas que muita gente também conhece como “o sétimo continente” – a enorme massa de plástico que anda à deriva pelos mares e não poupa qualquer recanto submarino. 

O grande objetivo, como já deve ter percebido, é sensibilizar a opinião pública global para o estado em que se encontram os nossos oceanos. 
E para o facto de produzirmos 400 milhões de toneladas de plásticos por ano e perto de 80% ir parar à natureza como detritos sem qualquer tratamento, pondo em causa os ecossistemas marítimos e não só: um estudo científico apresentado o ano passado, no Fórum Económico Mundial em Davos, alertou para a possibilidade de haver mais plásticos do que peixes nos oceanos já em 2050. 

As ilhas de lixo plástico que se concentram maioritariamente no Pacífico têm uma área cinco vezes superior ao território continental português mas os seus vestígios estão espalhados por todo o planeta. Já este ano, um grupo de cientistas da universidade de Newcastle chegou à conclusão que nem a Fossa das Marianas escapa. Aqui, quase a 11 mil metros de profundidade, foram encontradas fibras e partículas de plástico nos estômagos de várias criaturas marinhas. É a confirmação do que já se sabia: mais de 600 espécies de peixes, crustáceos e mamíferos estão em perigo de extinção. 

O problema afeta ainda as aves marinhas, com 90% delas a ingerirem produtos plásticos. Esse é o motivo, por exemplo, para o albatroz de Laysan (uma espécie autóctone do Havai) estar a desaparecer e a pardela do Mediterrâneo ser a ave mais ameaçada da Europa.

200 mil apelam a Guterres
Um dos melhores exemplos da poluição e das quantidades industriais de detritos plásticos que andam à deriva nos mares está documentado na ilha de Henderson, no Pacífico Sul: “Em vez de ser um sítio paradisíaco é um caso chocante da forma como este tipo de lixo afeta o ambiente à escala global”, explicou Jennifer Lavers ao Financial Times, em maio. 
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A cientista liderou uma investigação a este território britânico desabitado e publicou os resultados no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences: as praias de Henderson têm, pelo menos, 37 milhões de desperdícios plásticos – a maior densidade de detritos deste género alguma vez identificado no planeta.

A ideia de reivindicar a entrada das Trash Isles na ONU é um golpe de marketing de dois publicitários (Michael Hughes e Dalatando Almeida) e um designer gráfico (Mario Kerstra), responsáveis também pelos principais símbolos do novo país – incluindo a bandeira nacional, a moeda – o debris (detritos ou entulho, em inglês) – os selos e o passaporte. Este triunvirato conta com o apoio institucional da Plastic Oceans Foundation, uma organização não governamental com sede na Califórnia, e do site de entretenimento LaDbible. 

Para já, o abaixo-assinado por eles promovido já vai em quase 200 mil subscritores. E para que saiba – além de Al Gore, da atriz Judy Dench e do atleta Mo Farah – o porta-voz de António Guterres, Stéphane Dujarric, também já possui passaporte das Ilhas do Lixo.

* Tudo isto revela que à escala global somos uns povos de merda.

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