11/10/2017

JOANA PETIZ

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Nos limites da resistência

Há pouco mais de uma semana o primeiro-ministro garantiu pela enésima vez que não tencionava mexer no governo. A verdade é que já aborrece a conversa do costume: sempre que há azar, ressuscitam os rumores de saídas, mortes políticas, linchamentos públicos de governantes. E depois, logicamente, nada acontece - exceto quando a inevitabilidade a isso obriga, seja na forma de uma promessa de estalada, de licenciaturas obscuras ou de viagens que nada têm que ver com capacidades de governação. António Costa tem razão: mudar ministros não acaba com os problemas. E por isso, por princípio, segura-os até ao fim. Assim tem sido com o ministro da Saúde, que se tem aguentado apesar das sucessivas greves e ameaças de contestação de médicos e enfermeiros. A verdade é que Adalberto Campos Fernandes tem conseguido negociar, encontrar consensos e mais cedo ou mais tarde chegar a soluções pacificadoras.

Claro que até ao fim é um conceito subjetivo. Para muitos, o limite chegaria, por exemplo, quando um ministro da Defesa, respondendo sobre o roubo de armas de instalações militares, diz que efetivamente não sabe "se alguém entrou em Tancos" e que tem esperança, "como qualquer cidadão, de que possa vir a saber-se quem foi, porque foi e onde está o material". Ou quando uma ministra da Administração Interna consegue a proeza de ter contra si todas as forças de segurança, do SEF à Proteção Civil, passando pela polícia - que se diz farta de ser desrespeitada e vai sair à rua no dia 12 para demonstrá-lo.

Com o PCP a começar a descolar-se da geringonça - nos últimos dias, Jerónimo foi perentório quanto à excecionalidade de um apoio ao governo que "nunca foi um acordo parlamentar" e acusou PS e BE de "hostilizarem o seu partido, responsabilizando-os pelos maus resultados autárquicos -, tudo indica que a dormência dos sindicatos está perto do fim. O Orçamento não está em causa, a estabilidade governativa dificilmente o estará. Mas é bem provável que António Costa seja obrigado a rever, em breve, os seus limites.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
06/10/17

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