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O mundo digital:
quando todos formos “escritores”
quem nos vai “ler” ?
Com as ferramentas disponíveis hoje em dia, qualquer um de nós pode
ser escritor, fotógrafo, realizador ou mesmo designer. Basta ir a um
qualquer site ou fazer o download de uma app, e podemos produzir uma
peça de comunicação. E partilhar essa peça com o mundo. Somos todos
autores.
Mas vamos começar do princípio. E no princípio era não o verbo, mas a
página pessoal. Corria o final dos anos 90 e a web participativa dava
os seus primeiros passos. Apareciam serviços gratuitos ou subsidiados
por publicidade que permitiam ter uma página pessoal e dizer algo ao
mundo. E foi exactamente nesse momento que o paradigma mudou. O
utilizador da internet passou a ser participante. Passou de “leitor” a
“autor”, de “espectador” a “criador”.
Mas o caminho era difícil. Era necessário algum conhecimento programático e era tudo lento e complicado.
Mas “a internet” apercebeu-se rapidamente que simplificação e
usabilidade eram as palavras-chave da transformação, e criou o blog. A
expressão “blog” – contracção de “weblog”, que por sua vez é a
contracção de web+log – vem do informatiquês, LOG, que é um tipo de
ficheiro-relatório onde se descrevem os eventos que acontecem no
computador.
Assim, o blog era, na sua essência, um relato digital periódico de
experiências do seu autor, e a Google – e por cá o SAPO – entre outros,
ao disponibilizarem ferramentas simples e intuitivas de criação de
conteúdo, abriram as portas do mundo e ao mundo para os novos autores.
Depois, com o crescimento e difusão dos blogs, cada vez mais
agregadores, genéricos ou específicos, temáticos e participados, nasce a
blogosfera. Uma gigantesca comunidade de pessoas que, singular ou
colectivamente, escreviam periodicamente acerca dos seus assuntos
preferidos.
E estava (está) feito: Qualquer um de nós podia (pode), em minutos,
abrir um blog e espraiar a sua criatividade. De similar forma surgiram
as ferramentas para vídeo, imagem, fotografia, etc.
A massificação das redes sociais veio então dar um impulso a esta
“cultura autoral”, permitindo a divulgação massiva dos conteúdos
criados. Tornava-se tão fácil divulgar como criar. E de seguida, essas
redes sociais transformaram-se elas próprias nos receptáculos dos
conteúdos, permitindo, numa só local, criar e partilhar a criação.
E agora, volto ao assunto do título, à “vaca fria” (não confundir com
vaca voadora): Neste momento somos todos autores. Autores dos nossos
posts mais ou menos sérios no Facebook, das nossas fotos artísticas ou
de família no instagram, dos nossos vídeos caseiros ou profissionais no
Youtube, dos nossos estados de alma ou cachas noticiosas, no Twitter.
E daí a pergunta: Se somos todos produtores de conteúdo quem nos vai
ler? Se todos nós temos algo a partilhar com o mundo e cada vez em maior
quantidade, esta nova realidade tem mais “autores” que “leitores”. Mais
produtores que consumidores.
A internet passou da sociedade da informação à sociedade do
conhecimento e depois à sociedade do relacionamento. Será que o futuro é
a sociedade da não-relevância? Onde todos temos algo a dizer mas não há
ninguém que nos queira ouvir pois estamos todos preocupados com o que
vamos dizer a seguir?
Aliás, nesta altura, onde muito se discute o papel do jornalismo nesta
nova era, qual o novo papel dos profissionais das notícias, num mundo em
que todos geramos informação e conseguimos fazê-la chegar a um sempre
maior número de pessoas? E os media oficiais? Qual o seu futuro num
mundo em que a foto do gatinho fofinho tem mais audiência que um artigo
de investigação? E onde as notícias desaparecem nas timelines, abafadas
pela espuma dos dias?
O próprio Facebook, como a maior rede social do mundo, debate-se
exactamente com este problema nos seus famosos algoritmos. O que
privilegiar? As notícias dos media oficiais ou as “notícias” dos amigos?
Quantidade vs qualidade, relevância vs dinâmica? E, de tempos a tempos,
lá vemos uma curva a 180º porque tudo isto é, até para eles, território
desconhecido.
Eu disse que não tinha respostas. Mas se calhar, como diz uma rádio bem conhecida, “vale a pena pensar nisto”.
* Consultor em Digital Marketing
– Senior Partner OOTB
IN "OJE"
22/07/16
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