HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Os turistas puxam redes em Sesimbra.
E recebem peixe
Estar de
férias e viver uma experiência emocionante - é assim que uma espanhola
descreveu a iniciativa que junta veraneantes na prática de uma
tradicional arte de pesca
"Quem
havia de dizer que um dia íamos ajudar pescadores a sério a puxar peixe a
sério de um mar a sério?", comentava ainda surpreendida Sonia Márquez,
uma espanhola que fez parte da "companha" que juntou turistas e
pescadores de Sesimbra para puxar as redes de pesca da arte xávega. "A
pescaria foi fraquinha, mas nunca mais me vou esquecer deste momento.
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As férias em Portugal estão a ser muito boas, mas isto foi tão emocionante", confessava ao DN esta residente de Ponferrada (da região de Castela e Leão). Ainda sacudia do corpo as escamas e a areia, enquanto o marido Tomas Martínez disparava um rol de fotografias com os peixes aos saltos.
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As férias em Portugal estão a ser muito boas, mas isto foi tão emocionante", confessava ao DN esta residente de Ponferrada (da região de Castela e Leão). Ainda sacudia do corpo as escamas e a areia, enquanto o marido Tomas Martínez disparava um rol de fotografias com os peixes aos saltos.
Sonia e Tomas
deixaram-se convencer a participar no projeto de Câmara de Sesimbra que
pretende recuperar a ancestral arte xávega, para mostrar aos turistas a
pesca de outros tempos, convidando-os a empurrar a aiola para o mar e a
puxarem as redes para terra. O agradecimento é o merecido "quinhão" da
pescaria, quando a há. À moda antiga. E o casal espanhol pensou que
precisaria de mais "músculo" para ajudar a trazer até à praia da
Califórnia as extensas redes que o armador Joaquim Paulo estendeu pelo
mar adentro à boleia do pequeno barco, que foi fazendo o cerco a remos
empurrados por quatro braços. "Mas foi muito fácil", testemunhou Sonia.
Até o Pedro e o João, de 7 e 9 anos, foram "pescadores" por uma hora,
abdicando dos tablets que habitualmente levam para a praia. "Só por
isso, isto já valeu a pena", desabafava a mãe.
Já
no posto de turismo, Vanda Pinto, da Câmara de Sesimbra e neta de
pescador, tinha reunido o grupo de 12 turistas que se iriam ser
"batizados" na atividade da pesca, dando algumas dicas sobre o que iriam
encontrar minutos depois em plena praia, onde nem o vento afastava os
banhistas curiosos com as movimentações dos pescadores em torno da
aiola. Vanda alertou para a "vida de surpresas que marca a atividade
piscatória: "Quando se pensa que há dinheiro para distribuir pela
companha, há prejuízos", disse. Ou seja, também hoje poderia ser "tarde
não".
Já os turistas tinham os pés na
areia, quando o mestre do bote aceitou a ajuda para empurrar a aiola até
à água. Afastou da costa uma dezena de metros, perante olhares curiosos
que não percebiam como é que o peixe ia ser capturado. "Isto é uma rede
com dezenas de metros, presa a uma corda, que tem um saco ao meio onde
vem o peixe", explicava Olímpio dos Santos, pescador reformado da terra,
deixando as duas pontas da corda no areal, firmes nas mãos de quem
sabe.
Meia hora depois - mais ou menos
-, o mestre dava o sinal aos seus homens que estavam na praia e que
contavam hoje com muitos mais braços do que é costume. Além dos turistas
inscritos para mais uma sessão de arte xávega, chegaram reforços que
também quiseram puxar redes antes de jantar. "É para abrir o apetite e
até pode ser que venha de lá alguma coisa jeitosa para ir ao lume",
ironizava Carlos Teigão, da Guarda. O experiente Canário, do alto dos
seus 90 anos e que anda ao mar desde os 13 (chama-se Joaquim Faria
Silva), mas ainda se equipa de calções, T-shirt e boné virado para trás
entrava em ação e torcia o nariz. "Se a rede não ficar presa vem peixe,
mas vai ser fraquinho. Vá lá umas bogas", admitia. O receio era que a
rede se prendesse, como há uma semana, acabando por partir-se. Foram
precisos três dias de trabalho para a recuperar.
Mas
o "decano" da pesca sesimbrense estava preparado para conduzir a
operação de resgate da rede. "É agora", gritava para a companha, "tem de
ser devagar, senão o peixe foge por baixo da rede", alertava, numa
altura em que já perto de 30 banhistas puxavam a rede para terra sempre
com os olhos fixos no mar.
"Pensava que
podia ver já peixes aos saltos como nos documentários, mas não deve ser
assim", confessava Sandra, uma jovem lisboeta de 17 anos, que quer
seguir Biologia. "Ré, ré", voltava a gritar Canário, mas foi preciso
intérprete para esta instrução. "É para baixar a corda", descodificava
Vanda. Até que o saco dá à costa e as notícias não eram as melhores.
"Bogas e pouco carapau. Ali o sargo é que já é bom", sublinhava Canário,
enquanto iam agarrando no peixe à mão para o devolver ao mar por
sugestão dos adultos. Mas o que os leigos pensavam ser o regresso à
liberdade transformou-se num banquete para as gaivotas.
* Verdadeiro turismo, fantástico.
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