04/11/2016

PEDRO MILHEIRO DA COSTA

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A Ressaca

O sector turístico vive um estado de bebedeira, estamos todos a “bombar”, as razões são muitas

A ressaca é um estado de alma totalmente democrático, pobres, ricos, nobres, plebeus, homens, mulheres, heterosexuais, homosexuais, bisexuais, todos, pelo menos uma vez na vida, já lá estiveram.

É uma espécie de soco no estomago, um anti-climax, uma descida aos infernos depois de uma breve passagem pelo paraíso! A ressaca é a maior “desmancha prazeres” que eu já alguma vez conheci.
Normalmente, como todos nós sabemos, quando lá estamos, na ressaca, são feitas uma série de promessas e juras eternas; “nunca mais bebo”, “nunca mais saio”, “daqui para a frente é só saladinhas e ginásio”, etc, etc, etc...

Mas há uma raça muito particular de pessoas que eu muito admiro - os precavidos! Há aqueles que andam com uma caixa de gurosan e que antes de ir para a cama fazem um pouco de prevenção com uma ou duas pastilhas daquilo diluídas em muitos litros de agua! Tinha um chefe que, depois de uma noite bem regada e com muitos maços de cigarros, bebia três ou quatro águas com gás seguidas e pedia uma caneca de leite, pimba, emborcava aquilo e ia para casa muito bem disposto, no dia a seguir estava fresquinho que nem uma alface! E há também aqueles ( com a idade fui me juntando a este grupo ) que bebem criteriosamente, não misturam e fogem a sete pés de bebidas mais musculadas!

Ora, o sector turístico vive neste momento um estado de bebedeira, estamos todos a “bombar”, as razões são muitas, deixem-me dizer que eu não embarco na teoria de apontar o Estado Islâmico como único causador desta onda inebriante, obviamente que ajuda, mas não é nem pode ser a única razão, quem anda no turismo há já algum tempo sabe que os destinos turísticos e a massificação desta indústria leva a que o menu de destinos, apesar dos constrangimentos causados pelo EI, esteja mais alargado que nunca, lembro-me de ir a feiras de turismo no inicio da década de 90, e contavam-se pelos dedos das duas mãos o numero de destinos que eram promovidos, hoje, as mesmas feiras multiplicam por dez, vinte, trinta, o numero de sítios que promovem!

Dizia eu, vivemos um momento inebriante, com excelentes resultados, melhores que nunca, mas, porque a vida em geral e em muito particular, a economia, é feita de ciclos, temos que nos preparar para a ressaca!

Como?

Em primeiro lugar, aproveitar este bom momento para requalificar, requalificar tudo! Hotéis, fazendo as remodelações que tem vindo a ser adiadas anos e anos - existem muitos que estão totalmente datados, e assim nunca vão conseguir subir convenientemente os seus indicadores.

Olhar para o staff, formação dentro das unidades, e muito importante, fora das unidades turísticas, preparando bem novos colaboradores ( formação essa que já viu bem melhores dias! ).

Aproveitar este melhor momento de tesouraria para também olhar para os melhores dos melhores colaboradores e fazer aquilo que nos anos maus nunca foi possível, aumentá-los justamente, fazendo crer à restante equipa que vale a pena ser empenhado! Fazendo crer que uma carreira no turismo pode vir a ser bem compensada!

Também o Governo Regional e as Autarquias tem um papel vital nesta preparação; Olhem para as infraestruturas, ou melhor, para a falta delas, fico sempre muito impressionado quando vejo os términos de alguns dos mais conhecidos percursos recomendados, totalmente enfeitados com papel higiénico e respetiva matéria orgânica que normalmente acompanha este artigo de toilete. Não pode ser!

Olhem para a antiga rede viária, naturalmente a eleita pelos turistas! Está em muito mau estado.
Não há meios? Cobrem-nas! Um exemplo, não acredito que haja um turista que se importasse de pagar 5.00 euros para passar por baixo do espetacular “Veu da Noiva”!

Olhem para a limpeza das cidades! Tenho saudades quando o Funchal ganhava o premio de cidade mais limpa do país...

Olhem para o ordenamento urbano, para a requalificação urbana.
É que se quando a ressaca vier ( ela vem mesmo!), o produto estiver neste estado, a enxaqueca vai ser bem mais dolorosa!

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
31/10/16

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