30/10/2016

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ESTA SEMANA NA  
"SÁBADO"
Os polícias 
que nunca esquecem uma cara

Ocupa uma pequena dependência na sede da Scotland Yard, em Londres, com um número afixado na porta: sala 901. Na unidade de elite da polícia britânica - conhecida por MET -, trabalham meia-dúzia de agentes com uma característica comum: são especialistas em reconhecer caras. 
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Numa cidade com milhares de câmaras de videovigilância espalhadas por ruas, espaços comerciais, transportes públicos e condomínios - "um olho amigo no céu", defendia o Governo, em 1994, quando começaram a ser instaladas - os agentes da sala 901 são os primeiros a procurar soluções quando há um crime sem pistas. Peritos em reconhecimento facial, passam horas a visionar as imagens de videovigilância até conseguirem uma identificação positiva.

Nos anos 90, mais de metade do orçamento para a prevenção do crime em Londres destinava-se à instalação e manutenção de câmaras de videovigilância. Embora o investimento tenha sido um fracasso - durante anos os números da criminalidade mantiveram-se estáveis -, os resultados começaram a aparecer com a criação desta unidade especial, a primeira do género no mundo.

Na semana passada, num quadro branco pendurado na parede da sala 901, o fundador e cérebro da unidade, Mick Neville, escreveu o número de identificações positivas dos últimos sete dias: 1.957.

O predador do autocarro
O homem aparecia nas imagens mas tinha o rosto praticamente escondido pela barba e cabelo comprido. Vestia uma parca escura. Sentado ao lado de uma menor, usou um jornal para esconder a mão com que lhe tocou na virilha. As imagens mostravam-no também a seguir a menor pela porta traseira. A miúda de 15 anos conseguiria fugir, mas não era a primeira vez que o predador atacava. Visionadas as imagens do autocarro e das ruas envolventes, a polícia divulgou um retrato do suspeito no seu boletim semanal intitulado Caught on Camera [apanhados na câmara, em tradução literal]. Nem uma pista. Nem um telefonema.

Eliot Porrit, 36 anos, na equipa desde 2015, ficou com o caso. Em miúdo gostava de ver filmes com o pai e era capaz de identificar os actores em papéis menores ou aparições de segundos noutros filmes. Tinha um talento especial: nunca esquecia uma cara. Com um mapa digital aberto num tablet, depois de estabelecer um padrão nas viagens de autocarro do suspeito, circunscreveu a zona Norte de Londres com três alfinetes e arrancou para o terreno com uma colega. Decidiu ver também as câmaras do metro da zona, nas instalações da empresa de transportes.

Quase por milagre, enquanto verificava as imagens de fraca qualidade, a colega foi à janela e viu um homem agarrar num jornal gratuito. A fisionomia correspondia ao retrato recuperado das primeiras imagens: era o suspeito. "Corremos como loucos", contou o agente à revista New Yorker.

 O homem, 56 anos, administrativo numa empresa, seria detido pouco depois, acusado de tentativa de violação. 

* Precisamos destes olheiros.

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