01/04/2016

PAULA SÁ

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Agora não chega 
fazer-se de morto

Um coro de críticas inflamadas fez-se ouvir durante bastante tempo contra a estratégia do então líder da oposição Durão Barroso de se fazer de morto em resposta à governação de António Guterres. Não avançava com uma ideia, não apresentava uma alternativa, era frouxo no confronto político, diziam. E ainda assim, Barroso ia a jogo no Parlamento. Levou até monumentais sovas de Guterres, tribuno de excelência, que o cilindra debate após debate. Contra todas as expectativas, Durão acabou por ganhar as eleições autárquicas e logo de seguida as legislativas antecipadas de 2002. Mais por desistência do primeiro-ministro socialista, que atirou a toalha ao chão e deu o seu governo minoritário demasiado frágil para prosseguir.
Em 2005, José Sócrates também tirou proveito da tragédia do governo de Santana Lopes - depois de Barroso se ter deixado encantar por Bruxelas - e ganhou com maioria absoluta as legislativas. A estratégia passou por apresentar-se como o protagonista da esquerda moderna. Segue-se Passos Coelho, que até se esforçou para apresentar uma alternativa ao segundo governo minoritário de Sócrates, mas que na verdade ganhou as eleições de 2011 porque o país quase colapsou financeiramente e o eleitorado foi implacável com o PS.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou há dias que a política é a arte do possível. Mas é ainda a arte de aproveitar as circunstâncias e transformá-las em sucessos eleitorais. As de 2002, 2005 e 2011 provam que na maioria das vezes os governos caem por dentro, por desgaste, por erros, por desagregação e até por abandono. Não foram os projetos alternativos de poder o fator determinante para as mudanças de ciclo político. As figuras da altura aproveitaram o momento, e ponto final.
Chegados aqui, Passos Coelho, relegado à oposição, tem evitado o confronto com António Costa no Parlamento, sobretudo no Orçamento do Estado para 2016. A dois dias do congresso que o relegitima como líder do PSD, entrou no debate sobre o Plano Nacional de Reformas para dizer a Costa "a sua estratégia está errada". Levou a resposta óbvia: a sua de "cortar salários e pensões" é que estava.

No emaranhado de circunstâncias, a do presidente do PSD é muito particular. Enquanto nos anteriores ciclos os líderes da oposição não tinham governado, Passos ainda há pouquíssimos meses era o maestro de um governo de coligação e o primeiro-ministro a quem muitos portugueses colaram o rótulo da austeridade. Não lhe basta, por isso, fazer-se de morto. Nem aguardar apenas que o atual executivo caia de maduro ou tropece numa má execução do Orçamento. Em Espinho, vão estar todos à espera que aponte uma nova "estratégia certa" e alternativa à de Costa. Senão quem se desgasta pelo caminho é o PSD.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
31/03/16

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