22/03/2016

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HOJE NO  
"i"

RTP. 
A polémica sobre Nuno Artur Silva 
pariu um rato

Guionistas que eram colaboradores Produções Fictícias estão a criar para programas da RTP, mas esse trabalho não envolve a produtora de Nuno Artur Silva
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Ao contrário do que foi noticiado esta semana, os guionistas que colaboraram com as Produções Fictícias (PF) e estão agora a escrever para os programas da RTP “Donos Disto Tudo” e “Nelo & Idália” não foram contratados nem são pagos pela estação pública mas antes pela Valentim de Carvalho. Os dois artigos em questão, publicados no “Correio da Manhã”, além de referirem que teria sido a RTP, na figura de Nuno Artur Silva, a contratar estes guionistas, sublinham ainda que o atual vogal da administração da RTP continua sem vender as PF.

Contactado pelo i, Nuno Artur Silva foi perentório em assumir que não comenta notícias do “Correio da Manhã”, classificando-as como “mentiras”. Ainda assim, o i apurou que efetivamente o atual vogal da administração da RTP não vendeu as PF e, consequentemente, a sua participação no Canal Q. No entanto, a mesma fonte garante o gestor tem recebido propostas, e continua disponível para receber, propostas de compra, apenas não terá recebido nenhuma que justificasse a venda.

Uma ideia que Nuno Artur Silva já tinha partilhado numa entrevista ao i, há um ano, em março de 2015, altura da sua tomada de posse: “Chegam-me propostas regularmente. A única coisa que tive de fazer para vir para a RTP foi deixar todos os cargos de administração, mas podia manter as sociedades. Continuo a ser o único sócio das PF. Não tenho nenhuma incompatibilidade.”

Efetivamente, o que é exigido pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aos profissionais que assumem cargos na direção do grupo público é que se libertem de qualquer função executiva/ administrativa que possam ter noutras empresas de comunicação social. Além disto, no caso de Artur Silva era imperativo que as PF deixassem de produzir ou criar para as estações, de rádio e televisão, da RTP.

De resto, segundo o i apurou, terá sido esta impossibilidade das PF - empresa que, apesar de ter vindo a reduzir as suas colaborações com o grupo público, nos quatro anos que antecederam a chegada de Artur Silva à administração da RTP, ainda assim faturou perto de dez milhões de euros - colaborarem com a RTP que terá levado um grupo de autores – entre os quais Maria João Cruz, Joana Marques, Daniel Leitão, Joana Marques, Susana Romana e Guilherme Fonseca – a “fazerem-se à vida”, segundo fonte do i, e montarem a sua própria empresa, a Spoiler – Criatividade e Conteúdos, que na sua página de Facebook se apresenta como um coletivo de criativos que escrevem para televisão, rádio, eventos empresarias e eventos familiares. “Até escrevemos em bolos”, brincam. “Quando não há trabalho num lado há que procurá-lo noutro”, comentou a mesma fonte, que ainda esclareceu que as PF só tinham nos quadros os administrativos. “Quer autores quer atores eram freelancers. E por ali passaram, ao longo de mais de 20 anos, centenas de atores, autores, técnicos... sem qualquer vínculo fixo com as PF. É natural que, mais cedo ou mais tarde, todos eles passem pela RTP”.

Quando, no final de 2015, a RTP começou a desenvolver a ideia de um programa que, de alguma forma, recuperasse o espírito de “Estado de Graça”, magazine humorístico de crítica social, estreado na RTP1 em abril de 2011 e abruptamente retirado de antena em dezembro de 2012, apesar de ser líder de audiências, e que juntava Joaquim Monchique, Ana Bola, Maria Rueff, Manuel Marques e Eduardo Madeira, resultando de uma parceria entre as PF e a Valentim de Carvalho, Daniel Deusdado, atual diretor de programas da RTP, terá desafiado a mesma equipa de atores (com exceção para Maria Rueff que acabou por ser substituída por Joana Pais de Brito) e a Valentim de Carvalho para que produzissem um programa para as noites de sábado. Segundo o i apurou, terão sido os atores a pedir que fossem utilizados os mesmos argumentistas – agora agrupados na Spoiler – para a criação de “Donos Disto Tudo”.

Um processo semelhante aconteceu com o programa que ocupa as noites de sexta-feira da RTP, “Nelo & Idália”. Terão sido os próprios Herman José e Maria Rueff a requisitarem que fossem contratados os argumentistas com que sempre trabalharam. Mas em ambos os programas, os serviços de guionismo são contratados e pagos pela Valentim de Carvalho, e não pela RTP.

As exceções que confirmam a regra 

Nem só na produção de conteúdos as contratações da RTP têm sido questionadas. No final de fevereiro, o presidente da RTP, Gonçalo Reis, afiançou que a estação não estava a contratar “superestrelas com condições extraordinárias”. Ainda assim, no mesmo momento, declarou que “o mercado é dinâmico, o setor mexe e há sempre novos valores a emergirem e nós temos de estar abertos a essas possibilidades, já que essa é a tradição da RTP”.

Dias depois, no início deste mês, era anunciada a contratação da super estrela Ana Lourenço. Uma contratação que, ainda assim, não recolheu grandes anticorpos. Aliás, a Comissão de Trabalhadores (CT) da RTP deu um parecer positivo em relação a esta escolha para a RTP3, cerca de um mês e meio depois da jornalista se ter demitido da SIC.

Ainda assim, aproveitou o momento para recordar as condições precárias de muitos dos trabalhadores da estação pública, nomeadamente daqueles que trabalham a recibos verdes. “A Comissão de Trabalhadores gostaria de dar as boas vindas à nossa colega, Ana Lourenço, jornalista de reconhecido mérito profissional.
Esta CT espera, no futuro, poder dar as boas vindas aos quadros da RTP, aos muitos trabalhadores precários a recibo verde, sem os quais seria impossível manter a funcionar o Serviço Público de Rádio e Televisão de Portugal, e que cuja contratação ainda não foi alvo de qualquer exceção por parte do Sr. ministro da tutela, Dr. João Soares”, foi possível ler na nota emitida pela CT, numa clara referência ao regime de exceção, previsto na lei, que teve de ser usado para permitir a contratação de pessoal para os quadros da RTP, e segundo o qual é necessário o aval do ministério que tutela o setor, neste caso o da cultura, dirigido por João Soares.

Como resultado prático desta advertência, Gonçalo Reis, terá enviado uma nota a avisar da intenção de melhorar as condições dos colaboradores externos da RTP, uma decisão que incluirá, entre outros aspetos, o fim da diferenciação de preços nos refeitórios, mas também a possibilidade de a RTP assumir a responsabilidade dos seguros de acidentes de trabalho e o descongelamento as progressões de carreira.

Depois da confirmação de Ana Lourenço, já esta semana, a ERC deu parecer favorável a novas nomeações do conselho de administração da RTP, desta feita para a direção de informação. Assim sendo, passam a integrar esta direção, António José Teixeira, ex-diretor de informação da SIC e atual comentador da RTP, é agora diretor adjunto de informação, ou seja, uma espécie de braço-direito de Paulo Dentinho, atual diretor de informação. Também da SIC veio Joana Garcia, que juntamente com Adília Godinho, atual coordenadora do “Telejornal”, passam a ocupar o cargo de subdiretoras. A CT não emitiu qualquer comunicado em relação a estes nomes.

Questionado pelo i, o diretor de informação da RTP, Paulo Dentinho, não podia ter sido mais sucinto, recuperando a ideia veiculada por Gonçalo Reis: “Em relação ao reforço da Direção de Informação, relembro que os postos estavam vagos há alguns meses. Optou-se por pessoas já com experiência nas funções para as quais foram convidadas, uma prática comum a todas as empresas, e na tradição da RTP de atrair talentos e saber.”


* Uma notícia clara para lavar as nódoas de determinada comunicação social.


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