13/12/2015

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ESTA SEMANA NA
"VISÃO"

A maldição do sobrediagnóstico

E se um check-up fizer mais mal do que bem? E se tratar precocemente levantar apenas dúvidas em vez de nos dar certezas? Um movimento na classe médica defende que demasiada intervenção também pode matar. Leia a entrevista com Luís Correia, cardiologista e professor na Universidade Federal da Baía, encabeça no Brasil a campanha Choosing Wisely

Luís Correia, 46 anos, cardiologista e professor na Universidade Federal da Baía, encabeça no Brasil a campanha Choosing Wisely (algo como "escolher de forma sensata"), lançada nos Estados Unidos, e que tem como objetivo combater o uso de recursos pseudocientíficos na Medicina, promovendo as medidas baseadas na evidência.
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Defende que é preciso levar o pensamento científico à Medicina. Esta não é uma ciência já?
O pensamento médico é supostamente científico, porém não tem sido assim exatamente. Na prática, utiliza-se muito crença e tradição, em detrimento de evidências. Precisamos de transportar o paradigma científico para o mundo médico. Há uma certa prepotência no médico que o leva a ser dogmático.

E os doentes estão preparados para aceitar estas alterações?
Temos de oferecer à população um pensamento racional. O que não acontece. Um dos grandes problemas de hoje da Medicina é o sobrediagnóstico e o sobretratamento. Há procedimentos que não deviam estar a ser feitos.

Por exemplo...
A angioplastia coronária em pessoas assintomáticas, apanhadas num diagnóstico de rotina, e que leva à colocação de um stent. É um tratamento que não traz benefício algum a quem não tem angina. Outro exemplo é a prescrição de glucosamina para tratamento da artrose do joelho. Está comprovado que não traz benefício além do efeito placebo no controlo da dor. Mas continua a ser altamente usado em ortopedia.

E isso acontece porquê?
Porque vivemos sob a mentalidade do médico ativo, com a ideia de que ‘‘sou melhor médico se prescrever’’. O médico sente-se melhor profissional se fizer, se prescrever medicamentos, exames…
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Mas os procedimentos médicos obedecem a guidelines, respeitadas pela classe.
Certo. Só que as guidelines são escritas por pessoas, não deuses. Há umas ótimas e outras que nem por isso. Devem existir para nos nortear. Mas têm de ser olhadas com uma visão crítica. E há conflitos de interesse. Faz parte do ser humano.

Para satisfazer interesses comerciais?
Sim. Por exemplo, valorizar excessivamente níveis glicémicos um pouco acima de 100 mg/dl leva a que se vendam muito mais milhões de medicamentos para tratar a diabetes.

* Uma entrevista da jornalista SARA SÁ.

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