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IN "VISÃO"
24/09/15
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Instabilidade
e desconfiança
O que se recomenda aos portugueses é que desconfiem
Duas palavras-chave têm percorrido esta campanha. Do lado da
coligação PàF (PSD/CDS), "estabilidade". Do lado do PS, "confiança".
Ora, nem a coligação está em condições de garantir estabilidade depois
de 4 de outubro nem os socialistas, relativamente a eventuais acordos
pós-eleitorais, inspiram confiança.
Repare-se bem: António Costa tem
sido bombardeado pela repetição da pergunta: "Se o PS não conseguir
maioria absoluta, com quem pretende chegar a acordo para um Governo de
maioria?" Por acaso, ninguém se lembrou de fazer a mesmíssima pergunta
aos partidos da coligação. E, no entanto, as sondagens, que persistem no
prognóstico de empate técnico, estão longe de sugerir que a atual
maioria o continue a ser depois das eleições. O absurdo é tal que,
conforme desenvolvemos na página 34, o PS até pode ficar em segundo
lugar e, não obstante, ser o partido com mais deputados eleitos. Porque
tanto o PSD como o CDS terão de constituir grupos parlamentares
autónomos. Ora, a confirmar-se que o Presidente convidará a formar
governo a força política com maior número de mandatos, veja-se o "molho
de brócolos".
Para ter ambições de regressar ao Poder, o PS tem de conquistar votos
dos descontentes à sua direita - os tais que tanto votam PS como PSD - e
pescar o voto útil da esquerda. Ora, um eleitor de esquerda não tem a
mínima garantia de que, em caso de necessidade, o PS não se coligará com
um dos ou ambos os partidos à sua direita. Do mesmo modo, o eleitor do
centro, que não quer ver bloquistas nem comunistas na órbita do Poder,
deverá pensar duas vezes antes de confiar o seu voto ao PS, partindo do
princípio que Costa pode voltar-se para o Bloco ou para a CDU. E, neste
caso, ambos os eleitores tenderão a votar à esquerda ou à direita,
respetivamente. Não têm nada a perder - e ainda podem contribuir para
obrigar o PS a entender-se com um dos lados.
Os socialistas não esclarecem, porque o que querem é forçar, contra
todas as sondagens (de que, devido a exemplos internacionais,
legitimamente desconfiam ...), uma maioria absoluta ou uma vitória
ampla. Por isso, ganham tempo. Oficialmente, admitem governar em
minoria, estabelecendo, caso a caso, à esquerda e à direita, acordos
pontuais. A solução não é bem-vista pelo PR, mas Cavaco está manietado: a
menos de seis meses de ser substituído em Belém, o PR não pode
dissolver a AR e chamar, de novo, os portugueses às urnas (tivesse
convocado as eleições para junho...). Da mesma forma, o seu sucessor
estará, durante os primeiros seis meses de mandato, igualmente inibido
de o fazer. Resulta daqui que qualquer governo terá de durar, no mínimo,
cerca de um ano. Paralisado na sua ação ou governando para eleições.
Perdendo por poucos, Passos Coelho manter-se-á, na liderança, à
espreita, na esperança de que a ingovernabilidade do País faça os
eleitores voltar ao seu redil. (António Costa, perdendo por poucos,
desaparece...). Por seu turno, um PS a governar em minoria, espera dar
aos pobres o bodo de algumas medidas populares, cruzando os dedos para
que a conjuntura económica lhe seja favorável. Exatamente como fez
Cavaco no seu primeiro governo (1985/87) antes de arrancar para a sua
primeira maioria.
A atitude de ambas as partes é a de que "no dia 5 logo se vê".
Escondem-nos as condições do Tratado Orçamental, que impõem uma troika
sem troika. É por isso que o tema "Europa" tem estado ausente da
campanha. Ora, o que nos espera são tempos de instabilidade. E o que se
recomenda aos portugueses é que desconfiem.
IN "VISÃO"
24/09/15
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