01/10/2015

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HOJE NO
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Só cinco restaurantes e pastelarias
. servem produtos sem glúten

Este país não é para celíacos. Principalmente fora de casa.

Com 20 anos, André distribuía 47 quilos pelos seus 1,77 metros. “Sempre fui magro, mas a perda de peso começou a ser assustadora”, conta ao i. Ao baixo peso juntava-se um cansaço crónico e um mal-estar que surgia sempre no final de cada refeição. Passou a evitar os condimentos e os molhos e optava por comer apenas sandes e massas simples, sem saber que eram exactamente essas as escolhas que o estavam a prejudicar. Só depois de várias análises, endoscopias e biopsias é que André descobriu que era celíaco e, por isso, intolerante ao glúten, uma proteína encontrada precisamente no trigo, no centeio e na cevada que André andava a consumir sem controlo.
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A doença afecta entre 1 e 3% – entre 10 a 15 mil – dos portugueses mas estes são apenas os casos com diagnóstico confirmado. Estima-se que o número real chegue aos 100 mil doentes. Daniela Afonso, dietista da Associação Portuguesa de Celíacos (APC) lembra que cerca de 85% desconhecem que sofrem da doença, até porque só recentemente deixou de ser vista como uma patologia pediátrica.

“Se nas crianças os sintomas são os clássicos: diarreia, barriga distendida e atraso no crescimento, nos adultos, os sintomas são atípicos e relacionados com órgãos que não os do sistema digestivo”, explica ao i. Anemia, osteoporose, fertilidade diminuída, depressão e dores ósseas são alguns dos sinais que, por serem camuflados em tantos outros diagnósticos, dificultam a descoberta da doença.

Apesar de não ter cura, o tratamento é aparentemente fácil: basta adoptar uma dieta isenta de glúten. Mas se a oferta hoje em dia já passa por prateleiras de supermercados com partes dedicadas inteiramente a celíacos, há catorze anos quando André foi diagnosticado, a situação era bem diferente.
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“Só conseguia fazer compras em farmácias ou dietéticas”, conta, lembrando a diferença abrupta de preços com a qual aprendeu a lidar. Mesmo hoje em dia, os valores estão longe de serem semelhantes aos tradicionais: um estudo da APC provou que os produtos sem glúten são 2,5 vezes mais caros que os tradicionais. Se dúvidas houvesse quanto a esta conclusão, basta passar os olhos pela prateleira de um hipermercado para ver que um pacote de esparguete tradicional custa 0,75€, quando o produto da mesma marca mas sem glúten chega a custar 1,99€.

Jantar fora
Quando o glúten ainda não era uma palavra conhecida da maioria, produtos do género só estavam disponíveis em dietéticas e, mais tarde, em lojas como o Celeiro e o Brio. Com os anos, o aumento da procura por produtos isentos de glúten fez com a loja Brio de Picoas autonomizasse uma secção inteiramente dedicada a celíacos. Ana Nunes, gerente da loja, explica que os produtos mais vendidos continuam a ser as massas, bolachas e farinhas, apesar da lista de produtos chegar a coisas tão pouco óbvias como papas de bebé, cerveja e até comida para animais.

“É incrível a quantidade de coisas que não imaginamos que têm glúten”, desabafa Rosa Paiva, que com a doença da filha aprendeu a ler rótulos como ninguém. “Demoro imenso tempo no supermercado”, confessa entre risos. A filha Alice tem actualmente onze anos, mas o diagnóstico chegou com apenas dez meses, quando os pais repararam que tinha simplesmente parado de crescer.
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A sorte de lidarem com um pediatra familiarizado com a doença facilitou o diagnóstico e bastou entrar no consultório de gastrenterologia para que a médica detectasse os sintomas: a pele baça, o pouco cabelo e a barriga distendida de Alice denunciavam o problema digestivo. Com o diagnóstico feito, chegou a hora das alterações em casa. A cozinha da família passou a ter duas torradeiras, duas manteigueiras, passou-se a ter cuidado com os utensílios usados para cozinhar e, para evitar contaminações – “e para que a Alice não se sinta diferente” – se o jantar é esparguete à bolonhesa, todos comem massa sem glúten.

Apesar de conhecer a doença, os sintomas e ter uma lista mental do que pode ou não comer, Alice não deixa de ter apenas onze anos e com eles, as crises existenciais. “Quando ela começa a perguntar ‘porquê eu?’, eu desdramatizo e digo que ela pode comer tudo o que for saudável, ou seja, carne, frutas, legumes. O pão, a massa e as bolachas não são essenciais para ninguém”, refere Rosa.

Se em casa a alimentação é controlada, tudo muda quando um celíaco decide fazer algo tão simples como jantar fora. “Ir a um restaurante pode ser um drama”, confessa André. Se decide comer sopa num restaurante normal tem de perguntar se leva farinhas ou batatas congeladas.

“Dizem-me que não, mas depois trazem-me sopa com massinhas”, conta, a recordar uma das últimas tentativas. É por isso que prefere os vegetarianos que, apesar de terem pratos com glúten, são mais atentos com os ingredientes e conseguem aconselhar as melhores opções para os celíacos.

Com apenas dois restaurantes certificados em Portugal pela Associação de Celíacos, a opção passa por recorrer àqueles que são recomendados por outros doentes e que, apesar de terem algumas opções para celíacos, não é garantida a não contaminação por outros produtos com glúten nas cozinhas.

Num restaurante normal, Rosa sabe que vai levar com olhares de estranheza às questões que chegam logo com o couvert. “As batatas fritas são congeladas? Qual é a fritadeira que usam? O bife vem com molho?” Também os empregados do McDonalds ainda não se habituaram a ver um pedido de hambúrguer sem pão. “Perguntavam-me sempre o porquê de levar só a carne se tinha que pagar o menu completo.”

A boa notícia para Alice chegou este Verão, com a notícia de que a cadeia de fast food já tem hambúrgueres sem glúten. “Foi óptimo poder fazer um pedido sem restrições e ver a cara de (ainda maior) satisfação dela a comer o mesmo que todos os outros da mesa.”

* Mas quais são os restaurantes???
O GLÚTEN FAZ MAL A TODA A GENTE, EVITE-O!


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