Regressões e contribuições
No próximo dia 9 de maio comemora-se, em Moscovo, o 70º aniversário
do fim da II Guerra Mundial. Muitos líderes mundiais marcarão presença
ao lado de Vladimir Putin para assistir às celebrações. Até aqui tudo
está bem. O problema começa quando alguns líderes ocidentais declinaram
deslocar-se a Moscovo devido a claras divergências com o presidente
russo, e deste pouco ou nada ter feito, que se saiba publicamente, para
não reverter este comportamento. Ou seja, estamos a assistir aos
contornos daquilo que podemos designar por Nova Guerra Fria, e bem
podemos esquecer todos os avanços das últimas décadas para uma
aproximação efetiva da Europa de Leste ao Ocidente. Só que desta vez o
contexto internacional é altamente periclitante. Quando da Perestroika e
Queda do Muro de Berlim, e consequente pulverização da democracia por
todos aqueles estados pró-União Soviética, o mundo ainda era um lugar
ingénuo e menos globalizado, os territórios físicos e imateriais
bastante mais delimitados, de contornos bem definidos, quase não havia
sofisticação tecnológica, não havia globalização nas lutas que
entretanto a Humanidade travou, por um lado, e nos estilos de vida e
tendências vivenciais que entretanto emergiam por toda a parte.
Falava-se por exemplo em terrorismo lá longe no Médio Oriente, nunca
dentro da Europa, e menos nos Estados Unidos. Contudo, por todos os
motivos seria bom que Vladimir Putin dialogasse com Merkel, Obama,
Hollande, e seus pares, e os persuadisse a irem à Praça Vermelha. Seria
um sinal objetivo de evolução!
Contribuições
Se perguntarem aos portugueses se estão satisfeitos por saberem que o
Primeiro-Ministro do seu país não pagou, por um determinado período de
tempo, e por determinadas razões, as suas contribuições à Segurança
Social, a resposta é clara: Não!
Mas também não é motivo para dramatizarmos demasiado a questão, pois
há dezenas de milhares de portugueses que tiveram comportamento
idêntico. Como qualquer cidadão, Pedro Passos Coelho deveria ter feito
os descontos para a Segurança Social no tempo devido. Não o fez. Deveria
tê-lo feito mais tarde, quando foi eleito e nomeado Primeiro-Ministro.
Do mesmo modo, não o fez. Mas este episódio não faz dele um vilão
inqualificável, antes um cidadão que, como qualquer outro, simplesmente
tem o direito às suas omissões. Por mais graves que sejam. E por isso é
feia a intolerabilidade da esquerda em torno deste episódio. Não me
lembro de tamanha mesquinhez contra um cidadão que tem revelado coragem,
retidão e sentido de responsabilidade numa época de difíceis contornos e
de duras limitações. A parcimónia com que algumas forças tratam este
caso é de uma desonestidade intelectual que só se vira, no passado, no
episódio de António Guterres quando, perante as câmaras de televisão
ligadas, se enganou nas contas do PIB.
Não valorizar o que o cidadão Passos Coelho tem ou teve de corajoso é
não só não reconhecer a verdade, como igualmente desviar o que é
urgente no debate nacional para o que é supérfluo e mesquinho. E ainda
por cima, os portugueses lá terão de aturar a forma irresponsável com
que alguns comentam o assunto, como se dizer tudo o que lhes vai na alma
fosse solução para colocar o país a crescer e a gerar emprego. Por
muito mais gravidade outros Primeiros-Ministros não tiveram a atenção
mediática que este está a ter. E daí uns não serem iguais aos outros.
Mas isso fica para os portugueses resolverem. Bem, espero!
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
20/03/15
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