23/03/2015

LUÍS ALMEIDA

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Regressões e contribuições

No próximo dia 9 de maio comemora-se, em Moscovo, o 70º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Muitos líderes mundiais marcarão presença ao lado de Vladimir Putin para assistir às celebrações. Até aqui tudo está bem. O problema começa quando alguns líderes ocidentais declinaram deslocar-se a Moscovo devido a claras divergências com o presidente russo, e deste pouco ou nada ter feito, que se saiba publicamente, para não reverter este comportamento. Ou seja, estamos a assistir aos contornos daquilo que podemos designar por Nova Guerra Fria, e bem podemos esquecer todos os avanços das últimas décadas para uma aproximação efetiva da Europa de Leste ao Ocidente. Só que desta vez o contexto internacional é altamente periclitante. Quando da Perestroika e Queda do Muro de Berlim, e consequente pulverização da democracia por todos aqueles estados pró-União Soviética, o mundo ainda era um lugar ingénuo e menos globalizado, os territórios físicos e imateriais bastante mais delimitados, de contornos bem definidos, quase não havia sofisticação tecnológica, não havia globalização nas lutas que entretanto a Humanidade travou, por um lado, e nos estilos de vida e tendências vivenciais que entretanto emergiam por toda a parte. Falava-se por exemplo em terrorismo lá longe no Médio Oriente, nunca dentro da Europa, e menos nos Estados Unidos. Contudo, por todos os motivos seria bom que Vladimir Putin dialogasse com Merkel, Obama, Hollande, e seus pares, e os persuadisse a irem à Praça Vermelha. Seria um sinal objetivo de evolução!

Contribuições
Se perguntarem aos portugueses se estão satisfeitos por saberem que o Primeiro-Ministro do seu país não pagou, por um determinado período de tempo, e por determinadas razões, as suas contribuições à Segurança Social, a resposta é clara: Não!

Mas também não é motivo para dramatizarmos demasiado a questão, pois há dezenas de milhares de portugueses que tiveram comportamento idêntico. Como qualquer cidadão, Pedro Passos Coelho deveria ter feito os descontos para a Segurança Social no tempo devido. Não o fez. Deveria tê-lo feito mais tarde, quando foi eleito e nomeado Primeiro-Ministro. Do mesmo modo, não o fez. Mas este episódio não faz dele um vilão inqualificável, antes um cidadão que, como qualquer outro, simplesmente tem o direito às suas omissões. Por mais graves que sejam. E por isso é feia a intolerabilidade da esquerda em torno deste episódio. Não me lembro de tamanha mesquinhez contra um cidadão que tem revelado coragem, retidão e sentido de responsabilidade numa época de difíceis contornos e de duras limitações. A parcimónia com que algumas forças tratam este caso é de uma desonestidade intelectual que só se vira, no passado, no episódio de António Guterres quando, perante as câmaras de televisão ligadas, se enganou nas contas do PIB.

Não valorizar o que o cidadão Passos Coelho tem ou teve de corajoso é não só não reconhecer a verdade, como igualmente desviar o que é urgente no debate nacional para o que é supérfluo e mesquinho. E ainda por cima, os portugueses lá terão de aturar a forma irresponsável com que alguns comentam o assunto, como se dizer tudo o que lhes vai na alma fosse solução para colocar o país a crescer e a gerar emprego. Por muito mais gravidade outros Primeiros-Ministros não tiveram a atenção mediática que este está a ter. E daí uns não serem iguais aos outros. Mas isso fica para os portugueses resolverem. Bem, espero!

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
20/03/15


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