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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
O braço-direito de Salgado que
era capaz de lhe dizer ‘não’
Aos 53 anos e desde 1986 nos quadros do banco, Amílcar Morais Pires liderava a área financeira e internacional.
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A passada noite de 14 de Maio foi de emoções fortes para
Amílcar Morais Pires. Não porque os mercados tivessem pregado alguma
surpresa ao homem forte do Banco Espírito Santo (BES) ou que estivesse por fechar algum aumento de capital,
mas porque o seu Benfica jogava frente ao Sevilha a final da Liga
Europa. Morais Pires, adepto ferrenho e presença habitual no Estádio da
Luz, não falhou a chamada.
Um ano antes, tinha estado em Amesterdão para
ver o Benfica perder a mesma competição contra o Chelsea. Seria
diferente a história em Turim? Não foi e o resultado final foi bem
diferente daqueles que se habituou a conseguir profissionalmente - uma
derrota, 4-2, no desempate por grandes penalidades.
Nascido em Moçambique e com licenciatura em Ciências Económicas na Universidade Católica, Amílcar Morais Pires entrou em 1986 nos quadros do BES e nunca parou de subir na hierarquia. Em Março de 2004, passou de assessor do conselho de administração a administrador do banco e desde então nunca deixou de cimentar o estatuto de verdadeiro braço-direito de Ricardo Salgado.
A Morais Pires, o histórico líder do BES entregou o departamento financeiro
assim como o complexo pelouro internacional. E Morais Pires voltou a
dar provas. Com a pasta internacional chegaram-lhe ameaças de morte, mas
nem por isso o trabalho abrandou. Contratou seguranças privados e
arrancou para reestruturação do grupo. Em Angola, no topo do BESA substituiu Álvaro Sobrinho por Rui Guerra e em Moçambique apostou em Ibraimo Ibraimo para liderar o Moza Banco, do qual o BES África detém 49%.
Conhecido
por ser discreto, Morais Pires também se destaca por reagir bem sob
pressão. Assim que soube da saída de Ibraimo Ibraimo do BCI - Banco de
Comércio e Investimentos, detido em parte pela CGD, Morais Pires entrou
em campo. Convicto de que se tratava do melhor banqueiro de Moçambique,
garantem fontes próximas do negócio, Morais Pires fechou a transferência
em minutos.
Se em dias de jogo é fácil encontrar Amílcar Morais Pires no Estádio da Luz, nos dias de trabalho
é na sede do banco na Avenida da Liberdade que passa a maior parte do
tempo. Conhecido por ser acessível a todos os funcionários, não é raro
vê-lo sair do gabinete para trabalhar entre os cerca de cem funcionários
instalados no ‘open space' conhecido como a sala dos mercados. E os
horários também pouco lhe interessam. Pouco dado a entrevistas, aos
fins-de-semana gosta de se refugiar na quinta que mantém ao Norte de
Lisboa, mas nem por isso deixa de estar contactável. Consumidor
compulsivo de informação e adepto de ‘gadgets' tecnológicos, os que lhe
são mais próximos - entre eles, Isabel Almeida até agora directora
financeira do BES e que estará a caminho da nova administração do banco - sabem que o podem contactar a qualquer dia.
No
banco, onde cresceu até chegar a braço-direito de Ricardo Salgado, terá
agora de provar a sua independência face ao histórico número um do
banco assim como passar incólume no processo em que é arguido (ver
caixa). No banco ninguém ficará surpreendido. Morais Pires era conhecido como um dos poucos quadros do BES
capaz de dizer ‘não' a Salgado. O treino pode ter acontecido à custa do
futebol - se Morais Pires é fervoroso benfiquista, Ricardo Salgado, tal
como José Maria Ricciardi, não é menos sportinguista.
Três momentos-chave
1. A entrada no mundo Espírito Santo
Nascido em Moçambique e com a licenciatura em Ciências Económicas
concluída na universidade Católica, Amílcar Morais Pires entrou como
director no Banco Espírito Santo e nunca parou de subir. Até 2004, foi
assessor do Conselho de Administração e coordenador do Departamento
Financeiro de Mercado e Estudos.
Em Março desse ano passou administrador executivo e entrou no Conselho de dministração do BES Investimento. Além da responsabilidade pelo departamento financeiro, em 2012 recebeu das
mãos de Ricardo Salgado o pelouro da área internacional onde dedicou
especial atenção a Moçambique- é vice-presidente do Mozabanco - e
Angola.
2. A venda da Vivo à Telefónica
Membro do conselho de
administração da Portugal Telecom (PT) desde 2006, Morais Pires fechou
em 2010 um dos seus melhores negócios de sempre: a venda da Vivo à
espanhola Telefónica.
A oferta inicial, de 5,7 mil milhões de euros, não
convencia os accionistas a abdicar da posição e Morais Pires acabou por
se revelar essencial na negociação do novo valor.
Primeiro, uma oferta
de 6,5 mil milhões e, no final, o negócio seria fechado por 7,5 mil
milhões. O papel desempenhado nas negociações fortaleceu a sua imagem e
hoje já está indicado para um lugar na administração que resultar da
fusão entre a nacional PT e a brasileira OI.
3. Mil milhões de aumento de capital
De 2012 para 2013, o BES passou de um lucro de 96 milhões para um
prejuízo histórico de 518 milhões de euros. Este ano, no mês de Junho, o
banco avançou para um aumento de capital 1.045 milhões de euros e
com Amílcar Morais Pires novamente no centro da operação.
No final, o
próprio Ricardo Salgado reconhecia que "dos dez aumentos de capital que
fizemos desde a reprivatização, em 1992, este foi o de maior sucesso com
a procura a situar-se em 178% relativamente à oferta".
No entanto, nem
todos os negócios de Amílcar foram pacíficos - tal como José Maria
Ricciardi, é arguido num processo que envolve o BES e a seguradora BES Vida na venda de acções da EDP Renováveis.
* Ninguém de bom senso deseja mal ao BES.
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