27/05/2014

JOÃO MARCELINO

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Apontamentos 
de campanha

1. Segundo os dados do Banco de Portugal divulgados esta semana, a dívida pública chegou aos 132,4% do PIB no primeiro trimestre do ano. Ultrapassou já o montante de 220 mil milhões, mais sete mil milhões do que no final de 2013. Podem, pois, dar-se as voltas que se quiser mas este é o grande problema do País. 

O custo da dívida condiciona a recuperação do défice. Tem consequências tremendas na dinamização da economia. E para chegar à meta definida no Pacto Orçamental - 60% do PIB! - o pior está para vir nos próximos 20/25 anos. Sendo que este problema afeta muitos outros parceiros europeus, e que o manifesto dos 70 foi há tão pouco tempo mobilizador da discussão entre nós, é incrível como a maioria dos políticos nacionais não só não fez dele um assunto central da campanha como não o apontou como um daqueles que a União Europeia vai ter de gerir nos próximos anos com a atenção devida se quiser manter a coesão social neste espaço comum.

2. A televisão mostrou como os portugueses já não aceitam ser figurantes no grande espetáculo das romarias, comezainas e idas a feiras. Os atores políticos andam agora mais sós, o que não é necessariamente mau. O esclarecimento político tem muito pouco, ou quase nada, que ver com essas aglomerações. Hoje, elas apenas são importantes para o pessoal dos partidos. Aquilo que é mesmo mau, para quem acredita nas virtualidades do projeto europeu, é que se deixe crescer o ceticismo em relação ao futuro da União - ou que os portugueses se afastem do voto. 

3.Um vídeo circulou esta semana nas redes sociais com grande êxito. Tem que ver com as mordomias dos deputados europeus e os custos do funcionalismo no eixo Estrasburgo-Bruxelas. Não é nada de novo, que não se soubesse, mas poderia ter sido um bom pretexto para que algum dos candidatos portugueses se tivesse manifestado contra osexcessos da burocracia comunitária. A ideia de um circo luxuoso que vive à custa dos contribuintes é muito perigosa, sobretudo porque em parte é verdadeira. Quem acredita na União Europeia tem de saber lutar contra os excessos que a estão a minar. E o tempo é este. 

4. Antigamente, pelo interior, avisava-se: cuidado com os comunistas, que comem criancinhas. Agora a coisa é ainda mais estúpida, porque se diz na cidade e sai na boca de gente que gosta de parecer inteligente: cuidado que pode vir aí "o Sócrates". Que raio de obsessão! E estúpida, ainda por cima. Porque se o homem é, ou foi, assim tão mau, quem o combate até devia agradecer que ele comesse mais bifes na Trindade com os seus camaradas antes de ir de propósito à Fundação Mário Soares - sabe-se lá porquê - dar um abraço a um grande amigo com quem partilha ideias...

5. Merece o título da mais perversa maldade da campanha: Marcelo Rebelo de Sousa anunciou o voto na Aliança Portugal (que surpresa!...) porque vale a pena eleger [Jean Claude] Juncker para presidente da Comissão Europeia. Arre!

A final da Liga dos Campeões Europeus de futebol, que hoje se realiza em Lisboa entre as duas maiores equipas de Madrid, tem um impacto económico importante, e não apenas na capital. Traz 45 milhões de euros diretos. Quem está sempre contra as realizações desportivas em Portugal, por arrogância intelectual e preconceitos vários, deveria tentar perceber a importância económica desta indústria chamada futebol.


Director

IN "DIÁRIO  DE NOTÍCIAS"
24/05/14

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