30/10/2013

VIRGÍNIA TRIGO

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Energia positiva

Talvez não muito elucidados, mas cheios da inspiração que estes lugares místicos nos despertam, os quadros meditam sobre como colocar a empresa no coração dos seus empregados e prometem regressar com outras perguntas igualmente elusivas.
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Uma das expressões mais em voga na China desde 2012 e que está sendo disseminada por todo o país ao longo de 2013 é "energia positiva" a que se juntou o desafio lançado pelo novo presidente Xi Jiping no início do seu mandato de que a China precisa de construir o "sonho chinês". E o que é isso de "energia positiva" e da construção do "sonho chinês"? Muito dados a excessos logo os chineses se multiplicaram em discursos, programas de televisão e debates procurando as mais diversas interpretações para o significado destas expressões algo místicas. E, para já, com a habitual aptidão para o negócio que todos lhes reconhecemos, logo dispararam as vendas "on-line" – o local de compra favorito dos chineses – com inúmeros produtos desde chás especiais a braceletes e pendentes todos prometendo "energia positiva" e um vasto caminho para o sonho.

Uma das atividades que mais floresceram neste ambiente é a dos templos budistas onde particulares e empresas procuram respostas para as suas muitas interrogações. Os mais famosos destes templos podem ser bastante caros e oferecem pacotes para todos os gostos. Sei de pelo menos uma empresa multinacional que regularmente faz deslocar os seus quadros a centenas de quilómetros de distância para um templo em Fujian onde durante uns breves dias ou num fim de semana interrogam o Mestre e refletem sobre as suas enigmáticas respostas. "Mestre, por que razão pagamos tão bem aos nossos empregados e ainda assim eles nos abandonam?" "Isso é porque não trazem a empresa no coração" responde contemplativamente o Mestre, numa clara concorrência com qualquer consultora de Recursos Humanos à qual ganha por certo em concisão. Talvez não muito elucidados, mas cheios da inspiração que estes lugares místicos nos despertam, os quadros meditam sobre como colocar a empresa no coração dos seus empregados e prometem regressar com outras perguntas igualmente elusivas.

Tão comuns e procurados se tornaram estes lugares que começaram a pulular inúmeras anedotas com situações mais ou menos representativas do contexto chinês porque uma das características mais fascinantes deste povo é o seu sentido de humor e a capacidade que os chineses têm de se rirem de si próprios. Uma destas anedotas recentemente reproduzida no "China Daily" fala-nos de um homem muito rico em consulta num templo budista: "Mestre, sou rico, mas infeliz. Qual o caminho da felicidade?" ao que o Mestre respondeu: "E o que é a riqueza?". Algo perturbado com a misteriosa singeleza da resposta o homem explicou que tinha três apartamentos na zona mais cara de Pequim e que a sua conta bancária tinha mais de 8 dígitos, seria isso a riqueza? O Mestre nada disse, mas estendeu uma mão. "Quer isso dizer que eu devo ser agradecido?" perguntou o homem. Com uma súbita voz tímida o Mestre respondeu: "Não, quer simplesmente dizer que gostaria de ser seu amigo".

Enquanto os chineses procuram por todas as formas o caminho da "energia positiva" e do "sonho chinês" o certo é que, agora mesmo, como reconheceu Rui Xiaowu diretor-geral da China Electronic Corporation, se houvesse uma falha de eletricidade em Shenzhen – a região contígua a Hong Kong – e arredores, isso causaria flutuações nos preços dos produtos electrónicos em todo o mundo. É também certo que, contra todas as expectativas, o PIB chinês cresceu mais do que esperado no terceiro trimestre deste ano. Quem precisa de energia positiva?

* Professora no ISCTE Business School e INDEG-IUL ISCTE Executive Education

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
 28/10/13


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