24/06/2013

CRISTINA AZEVEDO

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Portugueses celebremos!

Portugueses celebremos, o dia da Redenção. Em que valentes guerreiros, Nos deram livre a Nação] . Era assim que começava o Hino da Restauração, caso sério de popularidade no final do século XIX e mais tarde adotado com fervor pela Mocidade Portuguesa.O dia da Redenção já não é o 1.0º de Dezembro e bem. Por mais importante que seja a recuperação da independência nacional faz muito mais sentido celebrá-la no plano do que nos une. Insistir nas costas voltadas e no rancor histórico a Espanha é, mais do que errado, já vazio de qualquer sentido.
O Dia de Portugal também renasceu pela extinção deste celebrar "pela negativa" .
Mas só pode ter um lema, só deve adotar um verso, o do semi-heterónimo Pessoano, Bernardo Soares" : "A minha Pátria é a Língua Portuguesa!"
Tudo seria mais simples. Tudo faria mais sentido.
Alguns de nós ficam impacientes. A maioria ignora. Todos seguramente percebemos que a forma como tradicionalmente se celebra o 10 de Junho serve essencialmente para "plantar" os recados dos discursantes no chão mediático que os fará crescer e multiplicar. E que para além disso teremos sempre direito a uma escolha temática mais ou menos produtiva, mais ou menos induzida pelo local onde se desenrolam as celebrações.
Pouco interessante, nada mobilizador.
E no entanto, sob o motto Pessoano tudo seria ano após ano mais claro, mais afetivo, mais contagiante.
Se no estribássemos na nossa Língua, a cada 10 de Junho conheceríamos melhor os países que a escolheram como Língua Oficial. Angola, Moçambique, Timor, Cabo Verde, Guiné , Brasil. Um de cada vez, todos sob um certo olhar. O das empresas, dos jovens, dos recursos, dos poetas, dos pintores, dos arquitetos ou dos médicos. Do mar que nos une e das universidades que podíamos ligar, da história coletiva que não conhecemos, das novas geografias relacionais que cada um tem vindo a construir, dos momentos de desenvolvimento em que nos encontramos, dos sucessos que não conhecemos e dos problemas que poderíamos partilhar melhor. Em Português.
Se nos estribássemos na nossa Língua, a cada 10 de Junho conheceríamos melhor os países que os portugueses escolheram para emigrar. Suíça, França, Estados Unidos, Luxemburgo, Alemanha. Entre outros. Um de cada vez. Todos sob um certo olhar. Como se organizam as comunidades, que grau de integração conseguem, como falam de Portugal, como aprendem ou ensinam o Português.
Se nos estribássemos na nossa Língua, a cada 10 de Junho conheceríamos melhor os nossos poetas, os nossos pintores, os nossos músicos, os nossos artistas. Que aprenderam em Português, escrevem, pintam, compõem e sonham em Português.
Vejam quantos 10 de Junho não tínhamos nós já para celebrar. Quantos temas e que ligação. Afetiva, humana, orgânica como a Língua que vive, interage e respira com e como todos os que a falam.
E não se afligissem os que se sentem pecar quando escapam da intervenção que analisa as forças e fraquezas, as ameaças ou as oportunidades por setor e com certeza estatística.
Falar da Língua Portuguesa é também falar de negócios e de números. Um estudo realizado pelo ISCTE revela que 17% do PIB do país equivale a atividades ligadas direta ou indiretamente à Língua Portuguesa e que o poder económico dos que falam Português equivale a 4% do valor da riqueza mundial.
Que o Português ocupa a 5.ª posição relativamente ao número de países com essa língua como língua oficial, a 7.ª relativamente ao número de traduções: língua de destino, a 8.ª relativamente ao número de artigos na Wikipédia, a 15.ª relativamente ao número de traduções: língua de origem.
O "New York Times" lançou uma edição em Português. O Português já é ensinado como primeira língua na Argentina. Na Namíbia, Gabão e Senegal há cada vez mais pedidos para a organização de cursos de Língua Portuguesa.
Por tudo isto foi estranho ver que a presidente Dilma Rousseff não participou nas cerimónias do 10 de Junho, perceber que participou nas últimas cerimónias do Ano Portugal-Brasil do qual seguramente a maioria de nós não se apercebeu e, o que é pior, que todos percebemos muito claramente que veio ajudar Portugal através da eventual compra da TAP, dos CTT ou dos ENVC. Não faz mal. A vender que seja a brasileiros. Mas que não seja esta a mensagem e a informação mais clara do que aconteceu no Dia de Portugal.
Porque do resto não ficou nada. Aliás, a ter de se escolher um setor produtivo para engalanar os discursos que seja o Turismo. Este ano e sempre. Porque no 10 de Junho, a continuar assim, os portugueses vão para o Algarve. Numa escapadinha!

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/06/13

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