26/06/2013

ANA MARTINS

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Subestimados

Instalou-se, na sociedade portuguesa, um clima de divisão, criando erosão no âmago fundacional que mantém a solidariedade entre gerações. Colocaram-se jovens contra idosos, trabalhadores do sector privado contra função pública e, há mais tempo, activos contra desempregados. 

Concentramo-nos nestes últimos: ainda o actual primeiro-ministro estava em campanha eleitoral, já mostrava o manto ideológico que lhes estendia. Parecia-lhe razoável que os desempregados contribuíssem com trabalho voluntário em troca do subsídio de desemprego de que eram beneficiários.

 Materializou a sua mundividência:
I) estar desempregado é fruto de incompetência própria, pela incapacidade em se constituir em valor acrescentado para o mercado de trabalho;
II) beneficiários de subsídio de desemprego são sugadouros imorais de dinheiros públicos, porque são pagos sem devolverem actividade produtiva.
Do ponto de vista psicológico, trata-se de uma dupla penalização de quem gere os destinos do País aos seus concidadãos: o desempregado é-o por culpa própria, subtraindo-o de valor pessoal. As afirmações e as medidas que se seguiram, já enquanto PM, não constituíram, por isso, qualquer surpresa. Desde as reduções ao tempo/montantes dos subsídios, à mais recente medida de fazer incidir descontos sobre estes últimos. Tudo muito consentâneo com a sua apregoada "ética na austeridade".

Não houve então qualquer surpresa nas orientações dadas pelo IEFP aos Centros de Emprego.
Trata-se de só mais uma divisão criada, desta feita desempregados de menor duração (beneficiários de subsídio) contra os de longa duração (sem qualquer subsídio - são já mais de metade do total de desempregados). É que desempregados a frequentar formação deixam de contar para a taxa de desemprego. Com esta medida, o Governo tenta uma panaceia para subestimar o crescimento sem fim à vista do desemprego, podendo artificialmente afirmar que há menos novos desempregados. Subestimados: na taxa de desemprego e no tratamento a que estão sujeitos.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
25/06/13

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