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ESTA SEMANA NO
"SOL"
Pequeno comércio agoniza
Emblemáticos nos centros das cidades, também os estabelecimentos mais antigos estão a fechar portas, vergando-se à crise. As vendas do sector tiveram quebras a rondar os 30% nos primeiros meses do ano. Por dia, encerram 16 lojas em Lisboa.
Em Fevereiro, as máquinas registadoras da Ourivesaria Aliança e da Livraria Portugal, outrora instaladas em prédios agora em obras, envoltos em andaimes, foram desligadas para sempre. Há dias, foi a vez da Panificação do Chiado, da qual já só restam os balcões.
Nos últimos tempos, a notícia tem-se repetido: também as lojas históricas da baixa lisboeta, algumas centenárias, estão a fechar portas. Em 2011, já a Alfaiataria Picadilly e a Mercearia Nova Açoreana tinham seguido o mesmo caminho, substituídas por outros estabelecimentos.
A crise e a austeridade – que trouxeram mais impostos, electricidade e combustíveis mais caros e cortes no rendimento disponível –, o desemprego e a redução do consumo são os principais motivos dos encerramentos. Mas a inexistência de herdeiros que queiram continuar os projectos familiares contribui para a falta de alternativas.
Montras despidas
«Os comerciantes, mesmo nos negócios de família, chegam ao momento em que vêem que não justifica continuarem a lutar por uma área onde não sentem apoio», explica a presidente da União de Associações de Comércio e Serviços (UACS). Carla Salsinha diz haver mais lojas emblemáticas da Baixa com problemas, mas não quer dar nomes.
Certo é que, com maior ou menor passado, estes são exemplos da história do comércio tradicional que está a marcar o presente e continuará a contar-se no futuro. Sem final feliz.
Multiplicam-se lojas com grades corridas até baixo, montras despidas e empoeiradas, correspondência acumulada por baixo da porta, letreiros com ‘vende-se ou aluga-se’. Tanto nas mais antigas como nas recentes.
Por exemplo, a Custo Barcelona e a Fornarina, jovens inquilinas do Chiado, fecharam recentemente, dando lugar a outras marcas de moda.
Desde o início do ano, contabiliza a responsável da UACS, as vendas dos comerciantes na capital caíram «acima de 30%», percentagem que deverá agravar-se até ao final do ano. E os fechos sobrepõem-se sempre às aberturas, como acontece em Lisboa. «Há 13 empresas do comércio e serviços a dissolverem-se e três a decretar insolvência.
Estão a fechar 16 empresas diariamente», contra oito a dez aberturas.
No país, no ano passado, houve 9.345 dissoluções de empresas do pequeno comércio e serviços e 1.946 insolvências. «Até Maio, já se dissolveram mais de 4.600 e registaram 1.015 insolvências, ou seja, mais de 50% do total do ano passado», contabiliza a presidente, que pede ao Governo um regime fiscal específico para as pequenas empresas.
Fechos de Norte a Sul
A lei das rendas, que «não se preocupou com a questão das lojas históricas e dos centros históricos», as acessibilidades e a desactivação de organismos públicos na zona, como o Tribunal da Boa Hora, são outros motivos apontados por Vasco Mello, da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina e vice-presidente da Confederação do Comércio.
No distrito do Porto, acabam 20 espaços de comércio e serviços por dia, num ritmo acelerado desde 2011.
«As lojas mais emblemáticas não fecharam.
Como têm um volume de facturação interessante, às vezes o que existe é um trespasse ou a passagem para a geração seguinte da família. Mas houve empresas com 30, 40 ou 50 anos que encerraram. A Livraria Latina esteve para fechar mas houve um grupo de empresários que ficou com ela [Grupo Leya, em 2010]», relata o presidente da associação de comerciantes, Nuno Camilo. Na região, as vendas estão a cair 35% a 40%.
«O Governo tem de perceber que as empresas já não estão num sistema elástico.
Se lhes pedimos mais esforço, é para começarem a entrar em incumprimento. Basta ver o que aconteceu com a entrega do IVA da restauração», lembra, aludindo às quebras nas receitas fiscais (ver texto ao lado).
Já no Algarve, a região do país com mais desempregados, também as portagens nas ex-SCUT estão a travar as receitas e o emprego.
Com reduções de 20 a 25% nas vendas e com o desemprego no sector «acima de 25%, mais 10% do que no ano passado», cerca de «um terço do comércio algarvio está encerrado», contabiliza o presidente da associação de comércio local, João Rosado. «Antes das portagens tínhamos 70 a 80 lojas fechadas em Portimão. Desde que surgiram, e com a crise, passámos para 130 a 140. A situação de Faro e Tavira é igual», exemplifica. E reforça: «A maior parte das empresas que estão abertas há dezenas de anos também já começaram a fechar».
* A crua realidade
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