Eis o primeiro-ministro sombra
O futuro a Deus pertence, mas não duvido de que tem um lugar reservado
para António Costa. O discurso do atual presidente da Câmara de Lisboa
no 5 de Outubro, diante do presidente da República, fez regressar o
melhor que a política nos pode dar em termos de ideias e de alternativa
democrática. Tudo o que o PS precisa para se afirmar num quadro de crise
social, económica e política que atingiu já o bloco de poder.
Há anos, muitos anos, que António Costa exibe um pensamento
profundo sobre o chamado socialismo democrático e a sua aplicação
prática, a social-democracia redistributiva.
Circunstâncias
várias, políticas e eleitorais do PS, mas também solidariedades que
nunca traiu, fizeram com que o atual presidente da Câmara de Lisboa
estivesse na função em que está. Ainda bem para Lisboa, mas o país pode
não poder esperar
.
Tirando os atos simbólicos que o patriarca
Mário Soares vai tomando em defesa de alguns formalismos esquecidos do
regime que ajudou a fundar, no PS, como diz o povo, têm sido mais as
vozes do que as nozes. Por isso, o discurso de ontem do presidente de
Câmara de Lisboa foi um grande regresso à política prática e praticável.
Um daqueles momentos raros em que os portugueses ficam diante de uma
alternativa, no caso cientes de que, tendo de honrar as nossas dívidas, o
podemos fazer sem algumas das catástrofes sociais ditadas pelos
sucessivos pacotes de austeridade fabricados no Excel do nosso ministro
das Finanças.
Após a colossal e apartidária manifestação de 15 de
setembro, após um Conselho de Estado que declarou ser necessário
encontrar futuro para os sacrifícios de hoje, após uma inédita rejeição
dos patrões para usarem o dinheiro dos trabalhadores em seu benefício
através de uma nova composição da taxa social única, o sistema político
parecia bloqueado entre a complexa e porventura insolúvel equação de uma
eventual remodelação governamental, a recusa do presidente da República
em criar condições para poder vir a ser formado um Governo da sua
própria iniciativa e um PS que, não conseguindo unir a Esquerda, estava
acantonado na posição de aguardar que o Executivo se decompusesse.
Foi,
por isso, de grande oportunidade que António Costa nos viesse falar
como se fosse o primeiro-ministro de um Governo sombra do PS. E, nessa
medida, abrir uma nova frente na questão de saber quem poderá liderar a
Esquerda.
Que este relevante facto político tenha nascido no dia
em que decorreu o chamado Congresso das Alternativas, que agrupa muita
da cidadania à esquerda do PS, é apenas uma das coincidências que os
grandes políticos conseguem programar. Com razões simples como esta: não
queremos ser os bons alunos chineses da Europa.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
06/10/12
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Concordo em pleno com esta análise. Não sei é de que forma o PS se vai livrar do Seguro. A dificuldade do PS se ver livre do Seguro é a mesma que o país tem de se ver livre do Passos!
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