09/03/2012

ALEXANDRA MACHADO




"To big to fall, 
            to small to keep?"

Cavaco Silva visita empresas. Álvaro Santos Pereira e os seus secretários de Estado visitam empresas. Assunção Cristas visita empresas. Passos Coelho, Miguel Relvas, Paulo Portas visitam feiras com empresas que querem exportar mais.

Vítor Gaspar anuncia financiamento à economia, no que é seguido por Carlos Moeda, secretário de Estado Adjunto. Carlos Oliveira, secretário de Estado da Competitividade, anuncia milhões de apoio à inovação e às empresas. Álvaro Santos Pereira junta mais uns milhões para o turismo. Paulo Portas acrescenta uns milhões de benefícios fiscais para investimentos.

O sentido é um só. O Governo já percebeu que as empresas não têm financiamentos. A banca, que não gosta de o assumir, fechou a torneira. Apesar dos milhões apregoados, a carteira vai vazia. Muitas PME (Pequenas e Médias Empresas) não sabem para onde se hão-de virar. Os seus clientes não compram ou não pagam o que compram. Não é fácil entrarem em novos mercados.

O Governo vai avisando: têm de ter mais capitais próprios, menos dívida. Fernando Ulrich, presidente do BPI, afina pelo mesmo diapasão: "No seu conjunto – no Estado, nas empresas, nas famílias – há crédito a mais, logo, deve ser equilibrado". A frase só não é sensata porque chega de um banqueiro, que, como todos os bancos, ao longo dos últimos anos não fez mais do que andar a distribuir crédito a empresas a custos muito baixos, demasiado baixos. E incentivou a sobrealavancagem das empresas.

E aqui chegadas, as empresas, em particular as PME, vêem-se mergulhadas num balanço alavancado, sem que vejam negócio que permitam ajustá-lo. O que os bancos têm estado a cortar às PME são linhas de crédito para a gestão de tesouraria, que ajudam a pagar impostos, salários, fornecedores até que consigam receber dos clientes. Além disso, são atingidas por uma carga fiscal das mais elevadas na Europa. E ouvem de todos os lados: têm de internacionalizar-se, têm de exportar.

Mas como?

Sem fórmulas mágicas, as PME têm de juntar-se. Noutra palavra: fusão, deitando para trás das costas orgulhos, receios e quintinhas. Só assim conseguirão ir para fora. Com bancos ou sem eles. A dimensão aqui importa. Vítor Gaspar, aliás, disse-o sem pruridos que era necessário assegurar financiamento às empresas "mais dinâmicas, mais produtivas, mais rentáveis e mais decisivas para o ajustamento externo da economia portuguesa". As grandes, as competitivas vão receber crédito, até porque já se percebeu, no decorrer da actual crise, que as maiores são, de uma forma ou de outra, salvas. Os Estados e os bancos seguram-nas. E as pequenas? Apesar de todos os discursos políticos as apoiarem, a realidade é bem diferente. Afinal, são muito pequenas para que haja incentivos reais para as manter. Têm, por isso, uma única saída: ganhar dimensão. Sob pena da dimensão resultar na sua saída... do mercado.

Jornalista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
05/03/12

.

Sem comentários:

Enviar um comentário