16/12/2011

HELENA CRISTINA COELHO


Atracção global

Quantas notícias sobre grandes investimentos estrangeiros em Portugal encontrou nesta edição? Folheie de novo o jornal e conte: há pelo menos sete páginas com projectos ou planos de intenções que envolvem quatro grandes empresas e largos milhões de euros.

Sete páginas num total de 56 para tão boas notícias parece pouco, mas não se tratam de investimentos de pouca monta. A começar pela EDP, o maior de todos. A venda de 21,35% significa a entrada de um grande grupo estrangeiro - alemão, chinês ou brasileiro - na eléctrica e um investimento que poderá superar três mil milhões de euros só para garantir uma posição de controlo.

Depois, a Volkswagen: ao mesmo tempo que celebra 20 anos de Autoeuropa, a multinacional anuncia que vai investir mais 200 milhões na unidade de Palmela no próximo ano. Também a Embraer, que vai investir 148 milhões em duas fábricas de componentes para aviões em Évora, formalizou ontem o acordo de parceria com a OGMA e o seu compromisso com o mercado português. E, por fim, a Renault, que pondera ampliar o espaço da actual fábrica em Cacia aproveitando a estrutura já construída da fábrica de baterias da Nissan.

Este é o lado bom das notícias: há interesse no mercado português, há investimento a ser canalizado para Portugal, há projectos em marcha. Depois há o lado menos bom. Por que vai o Estado entregar uma posição de controlo na EDP a um grupo internacional? Porque a ‘troika' assim o exige, porque a operação vale uma parte relevante do encaixe financeiro de que as debilitadas finanças públicas precisam. Mas também porque nenhum outro investidor português tem arcaboiço suficiente nesta altura do campeonato para avançar com uma proposta financeira que lhe permita entrar no jogo, quanto mais ganhá-lo. Salva-se a possibilidade de esse novo accionista garantir que será um parceiro estratégico da EDP e que a sua proposta industrial valerá tanto ou mais do que aquilo que está disposto a pagar por uma posição de controlo. A possibilidade de a Renault reforçar o seu espaço em Cacia, aproveitando a estrutura iniciada pela Nissan nos terrenos vizinhos, também é positivo. Mas resulta de outra má notícia: a desistência da Nissan de construir uma fábrica de baterias para carros eléctricos em Portugal. Um projecto que, recorde-se, era uma peça-chave na estratégia nacional de mobilidade e que perde assim velocidade.

À parte as fraquezas da economia nacional - ou mesmo as estatísticas, que revelam uma redução do investimento directo estrangeiro em Portugal no último ano -, o País continua a seduzir investidores e grandes multinacionais e a provar que é um parceiro importante para produzir e inovar em vários sectores. E qualquer um dos casos descritos acima são a prova disso. Mas também são o exemplo do muito que ainda há a promover. Se quer concorrer pela captação de mais investimento estrangeiro, Portugal tem de se posicionar mais como destino do que país, como sugere a Ernst & Young no seu estudo ‘Portuguese Attractiveness Survey 2011'. O desafio? A consultora sugere até um teste curioso: ter o que é preciso para ser um dos 15 destinos globais onde poderia nascer a próxima Apple ou Google. Portugal pode ter. Basta que garanta que é uma atracção global, e não fatal, para os grandes investimentos.

Subdirectora

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
14/12/11

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