05/08/2011

OCTÁVIO TEIXEIRA


BPN: negócios das arábias

Para a nacionalização do BPN alegou-se o risco sistémico da sua falência e a garantia dos depositantes.
Para a nacionalização do BPN alegou-se o risco sistémico da sua falência e a garantia dos depositantes. Alegações falaciosas. Quinze dias antes o ministro das Finanças tinha declarado (e dessa vez bem) que o BPN não representava um risco para o sistema, dada a sua reduzida dimensão. Quanto aos depósitos já então fora anunciada a elevação da garantia de todos os depósitos bancários para 50 ou 100 mil euros, os que poderiam suscitar a preocupação do Estado. Para além da falácia da argumentação, e contra muitas opiniões, foi nacionalizado o BPN, mas não a empresa sua proprietária (Sociedade Lusa de Negócios) que detinha um património suficiente para tapar o buraco do Banco. De facto o que se passou com o BPN não foi uma nacionalização mas uma socialização dos prejuízos e salvação dos seus accionistas.

Agora, o actual Governo reprivatiza a la carte o BPN, só o bife de lombo, pagando 510 milhões (o novo aumento de capital deduzido do preço de venda) para que o BIC possa, alegremente e sem riscos, aumentar o seu peso no sistema bancário. Assumindo desde já um prejuízo para o erário público, para os contribuintes, de 2.400 milhões. Mas os custos serão mais avultados. Os activos considerados "lixo" já transferidos para o Estado serão acrescidos dos activos "quase lixo" ou apenas com risco que não interessem ao adquirente. Suportará os custos do despedimento de 800(!) trabalhadores. E ainda nada sabemos sobre os milhares de milhões, garantidos pelo Estado, que a CGD já injectou no BPN…

Quer a "nacionalização" quer a "venda" do BPN são negócios das arábias. Mas não para os contribuintes. Esses estão condenados a pagar os dislates e favores governativos com aumentos brutais dos impostos, dos transportes, do gás e do que mais se verá.


Economista e ex-deputado do PCP

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
03/07/11

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