23/06/2011

RUI MIGUEL GRAÇA



Mobília descartável


Há alguns meses, em conversas de café, defendi de forma acérrima que André Villas-Boas não começava a próxima época no Futebol Clube do Porto. Essa minha convicção deve-se ao simples facto de não acreditar que neste futebol actual existam cadeiras de sonho. A mobília é totalmente descartável, é feita do momento e das oportunidades, para durar pouco tempo e não há qualquer coração que resista a isso.

A atitude que André Villas-Boas teve com o Sporting, na altura do convite efectuado por Sá Pinto, já preconizava que, no futuro, tivesse um comportamento idêntico e o adeus do menino bonito da nação azul acabou por não ser nada gracioso. Um pouco à imagem da saída de José Mourinho. Seguranças à porta de casa e uma missiva via fax ( um meio de comunicação já fora de moda e longe da vanguarda das novas tecnologias), numa relação que, segundo os próprios, era diferente, única, já que era movida pela paixão.

Quando Jorge Jesus deixou o Belenenses rumando a Braga de uma forma também pouco cordial, as perspectivas apontavam para que um dia os arsenalistas sofressem do mesmo veneno. Também já o Benfica sofreu desse efeito num processo de renovação, que teve peça de decoração uma visita a uma final da Taça de Portugal com o FC Porto em acção, clube que até tinha piscado o olho a Jesus. Todavia não há que ter pena de uns ou de outros. São os ciclos normais da mobília. Se não for pelo carpinteiro, será por parte da carpintaria. Os adeptos, esses, é que vão sofrendo.

IN "CORREIO DO MINHO"
22/06/11

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