10/06/2011

FERNANDA CACHÃO



Sinceridade 
         e teleponto

Os Homens da Luta, o grupo que, por certo, foi feito numa fábrica das Caldas, cantou na noite das eleições à porta do Hotel Altis, em Lisboa, o seguinte refrão: "José Sócrates tem mais encanto na hora da despedida." Tem.


No domingo à noite, ele era o humilde que volta "a militante de base", o pai que vai prestar mais atenção aos filhos e o homem que transpira em bica sob o calor dos holofotes. Onde estava o José que se preocupa com o melhor perfil antes de anunciar aos outros josés – e a todas as marias – a intervenção externa?! Ficou no Altis, antes da mão à palmatória com teleponto? Ou ainda na campanha? Antes ou depois de o staff político ter transformado marketing em ridículo e paquistaneses?

No domingo, o ‘Sócrates-primeiro-ministro’ só foi visto quando não respondeu à pergunta sobre novos processos judiciais. Foi só um fósforo. Com a cara luzidia de um padeiro, Sócrates foi, no final da noite eleitoral, a antecâmara da limpeza no palanque que as televisões mostraram. Passos Coelho discursava no Hotel Sana e no ecrã a imagem da metáfora: recolhiam-se microfones no Altis. Venham agora e rápido aqueles que se seguem. A estação que nos torna indolentes começa daqui a duas semanas. Portugal não pode deitar-se na praia, sob pena de morrer nela.

in "CORREIO DA MANHÃ"
07/06/11

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