17/10/2010

IGREJA DE SANTA CRUZ - COIMBRA



Fachada do Mosteiro
O Mosteiro de Santa Cruz é um mosteiro da ordem dos Cónegos Regrantes de Santo AgostinhoCoimbra, Portugal. Fundado em 1131, nele se encontram enterrados os dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. A qualidade das intervenções artísticas no Mosteiro de Santa Cruz, particularmente na época manuelina, fazem deste um dos principais monumentos históricos e artísticos de Portugal. localizado em

 

História

A Igreja de Santa Cruz de Coimbra foi fundada em 1131 por D. Telo (São Teotónio) e 11 outros religiosos, que adotaram a regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A nova Igreja recebeu muitos privilégios papais e doações dos primeiros reis de Portugal, tornando-se a mais importante casa monástica do reino. Sua escola foi uma das melhores instituições de ensino do Portugal medieval, tendo uma grande biblioteca (agora na Biblioteca Pública Municipal do Porto) e um activo scriptorium. Nos tempos de D. Afonso Henriques, primeiro monarca português, o scriptorium de Santa Cruz foi usado como máquina de consolidação do poder real. A importância da Igreja é evidenciada pelo fato de que D. Afonso Henriques e seu sucessor, D. Sancho I, foram sepultados lá.
Na Idade Média, o mais famoso estudante da Igreja de Santa Cruz foi Fernando Martins de Bulhões, o futuro Santo António de Lisboa (ou Santo António de Pádua). Em 1220, o religioso assiste à chegada à Igreja dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados em Marrocos (os Mártires de Marrocos), e decide fazer-se missionário e partir de Portugal.
No início do século XVI, o rei D. Manuel I ordena uma grande reforma, reconstruindo e redecorando a igreja e o mosteiro. Nessa época são transladados os restos de Afonso Henriques e Sancho I dos seus sarcófagos originais para novos túmulos decorados em estilo manuelino.
Entre 1530 e 1577 funcionou uma imprensa no claustro. É possível que o poeta Luís de Camões tenha estudado em Santa Cruz, uma vez que um parente seu (D. Bento de Camões) era prior do mosteiro na época, e há evidências em sua poesia de uma estadia em Coimbra.

Interior da Igreja do Mosteiro: abóbada estrelada manuelina e órgão barroco.

  Arquitectura e arte

O primitivo edifício da igreja e mosteiro de Santa Cruz foi construído entre 1132 e 1223, mas quase nada resta desta fase românica da obra. A fachada da igreja se parecia à da Sé Velha de Coimbra, com uma torre central avançada dotada de um portal e encimado por um janelão. Esses aspectos da fachada românica ainda são visíveis hoje, detrás da decoração posterior.
A partir de 1507, o rei D. Manuel I ordenou a modificação total da arquitetura e decoração interior do mosteiro, seguindo o estilo mesclado de gótico e renascimento que depois seria chamado manuelino. Entre 1507 e 1513 a fachada ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda decorativa. Mais tarde, entre 1522 e 1526, foi criado o portal cenográfico manuelino, hoje infelizmente muito erodido, por Diogo de Castilho e o francês Nicolau de Chanterenne.
No interior, a nave única e a capela-mor foram cobertas por uma abóbada manuelina de grande qualidade, em obras dirigidas por Diogo Boitaca e o coimbrão Marcos Pires. Cerca de 1530 foi adicionado junto à entrada um coro-alto por Diogo de Castilho, no qual instalou-se um magnífico cadeiral de madeira esculpida e dourada. Este cadeiral é um dos pouquíssimos da época manuelina ainda existentes em Portugal, e deve-se ao entalhador flamengo Machim, que o havia esculpido para a capela-mor cerca de 1512.

Túmulo do rei D. Sancho I na capela-mor.
A nave contém ainda um belo púlpito renascentista, obra de Nicolau de Chanterenne e datado de 1521. No século XVIII instalou-se un novo órgão, em estilo barroco, obra do espanhol Gómez Herrera, e as paredes da nave receberam um grupo de azulejos brancos-azuis lisboetas que narram histórias bíblicas.
Na capela-mor encontram-se os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Os túmulos originais estavam no nartex da igreja, junto à torre central da fachada românica, mas D. Manuel I não achou condignas as antigas arcas tumulares e ordenou a realização de novos túmulos. Estes, terminados por volta de 1520, são das mais belas realizações da tumulária portuguesa. Nicolau Chanterene realizou as esculturas jacentes representando os reis, enquanto outras esculturas e elementos decorativos se devem a vários outros ajudantes (Diogo Francisco, Pêro Anes, Diogo Fernandes, João Fernandes e outros). Ambos túmulos estão decorados com muitas estátuas e elementos gótico-renascentistas, além dos símbolos do rei D. Manuel I, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo.

Pentecostes, de Grão Vasco (cerca de 1530), na sacristia do Mosteiro.

A sacristia da igreja é uma boa obra em estilo maneirista, construída entre 1622 a 1624 por Pedro Nunes Tinoco. A sacristia está decorada com azulejos seiscentistas e possui quadros notáveis de dois dos melhores pintores quinhentistas portugueses: Grão Vasco e Cristovão de Figueiredo (outras pinturas originalmente feitas para o mosteiro podem ser vistas no Museu Machado de Castro em Coimbra).
A sala do capítulo, manuelina, possui a bela capela renascentista de São Teotónio, datada de cerca de 1588 e de autoria de Tomé Velho. Nessa capela se encontram os restos do fundador do mosteiro, canonizado já no século XII. Junto ao capítulo está o Claustro do Silêncio, obra de Marcos Pires construída entre 1517 e 1522, tendo abundante decoração manuelina. A fonte no centro é do século XVII.
Fora do mosteiro está o Claustro da Manga, que um dia foi parte do complexo mas hoje encontra-se isolado. Desse claustro só se preservou a fonte renascentista no centro, que consiste de um pequeno templo central conectado a quatro pequenas capelas com água ao redor. O acesso ao templo central se faz por quatro pequenas escadarias. Todo o conjunto, construído na década de 1530 pelo francês João de Ruão, é de grande valor simbólico e artístico.

  Panteão Nacional

O estatuto de Panteão Nacional foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003, pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Esse estatuto é repartido com a Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.

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