26/10/2010

ALMORRÓIDA ESFUSIANTE

Companhia Maior. 
A nova idade do teatro começa aos 60 

Pela primeira vez em Portugal uma companhia 
de actores seniores torna-se profissional. 
"Bela Adormecida" estreia no CCB na quinta-feira 

A primeira vez que Celeste Ribeiro entrou numa repartição das finanças para abrir actividade foi aos 80 anos: queria ser actriz. A senhora no guichet de atendimento nem queria acreditar. Só podia ser um mal entendido, provavelmente a idosa queria era ir buscar a reforma. O imbróglio aumentou quando Celeste explicou que era actriz. Foi aí que a funcionária achou que estava nos apanhados. Perante situação tão irregular, o pedido recusado. "A Celeste teve de voltar às finanças para mostrar o contrato e provar que o que dizia era verdade. Isto demonstra a importância da peça a nível social. Sim, ela tem 80 anos e pode trabalhar", conta o encenador da Companhia Maior, Tiago Rodrigues, ao i durante um intervalo para almoço. O actor de 33 anos fala de uma nova idade. "Eles já não têm um lugar activo, mas ainda não estão numa situação de dependerem dos outros. Há um desperdício imenso da capacidade destas pessoas. A Companhia Maior prova isso mesmo. Tenho a certeza que este tipo de projectos vão acontecer em todos os sectores." 

Nesta companhia quem tem cabelos brancos e rugas é a estrela. Os actores têm todos mais de 60 anos e a mais velha é a dona Celeste com os respeitáveis 80. Inspirado em companhias europeias (ver caixa), o projecto nasceu de uma parceria com o Centro Cultural de Belém (CCB) em Lisboa. "A primeira vez que ouvi falar de uma companhia como esta foi em 2007 numa conversa com Luísa Taveira, na altura adjunta de programação no CCB. Ela queria criar uma companhia de seniores e fazer um espectáculo profissional", recorda o encenador. 

A ideia tornou-se realidade quando Luísa Taveira e António Mega Ferreira convidaram o actor e encenador Tiago Rodrigues para avançar com o projecto. Primeiro passo? Casting. Mas não foi como nos "Ídolos", nem tinham uma espécie de Moura dos Santos a apelidar os outros de azeiteiros e adjectivos que tais. Tudo começou num workshop de representação em Março com o encenador Tiago Rodrigues. Mais tarde, trabalharam com Jacinto Lucas Pires, o músico Luís Lucas e Clara Andermatte. Os alunos inscreveram-se sem sonhar que iam integrar uma companhia de teatro, com direito a contrato e ordenado. "Bastou o facto de considerarem os pós-60 uma idade válida para um workshop de teatro para ficar com vontade de me inscrever", diz Júlia Guerra, com a voz correctamente colocada como se a continuássemos a ouvir na Emissora Nacional onde trabalhou e fez teatro radiofónico. 

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26/10/10

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