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Os imigrantes
O Estado e, por conseguinte, o Governo não podem fechar os olhos a esta violência. Cada pessoa explorada – as fortunas que pagam aos advogados por uma mão cheia de nada – é uma catástrofe humanitária, social e até económica.
Na edição da semana passada publicámos uma reportagem sobre a bolha de advogados milagrosamente especializados na regularização de cidadãos extracomunitários. Esta bolha repentina está a surgir por toda a parte como acontece com os cogumelos no outono — e alguns são bem venenosos. Estes advogados têm um campo de ação mais concreto e delimitado: eles andam onde há negócio e clientes, por exemplo, pelo Centro Comercial da Mouraria; querem aproveitar ao máximo os 400 mil imigrantes que estão literalmente aos papéis. Muitas destas pessoas — resumi-los à condição de imigrantes é uma desvalorização lastimável — não falam português, não conhecem os seus direitos, vivem em circunstâncias muitas vezes penosas, a fragilidade é evidente e a angústia tremenda. Como todos sabemos, fragilidade rima sempre com exploração.
Alguns (muitos?) destes advogados não são realmente especialistas nesta área do direito, mas apresentam-se como sumidades aos clientes perdidos e zonzos com tanta regra e com a ameaça de serem expulsos do país. É o caldo ideal para abusos e atropelos. A Ordem dos Advogados poderia — deveria — exercer a responsabilidade de regular esta selva, mas, pelo que se vê, a maior preocupação tem sido limitar a entrada de advogados brasileiros que chegam a Portugal também eles farejando a debilidade dos seus conterrâneos. Nem todos são assim, obviamente, há gente decente e com princípios, mas para a Ordem dos Advogados talvez o que interesse mais seja limitar a concorrência para proteger o terroir dos advogados da pátria.
A situação é inaceitável. O Estado e, por conseguinte, o Governo não podem fechar os olhos a esta violência. Cada pessoa explorada — as fortunas que pagam aos advogados por uma mão cheia de nada… — é uma catástrofe humanitária, social e até económica. António Costa é o pai e a mãe desta vergonha. Luís Montenegro não pode tornar-se o carrasco, mesmo que involuntário.
* Jornalista,Director, Consultor de comunicação
IN "O JORNAL ECONÓMICO" -20/12/24
Um dia para lembrar
Um país tão necessitado de um governo mais liberal do ponto de vista económico e não só e sai-lhe na rifa um governito pseudo-securitário que gosta de exibir músculo aos mais fracos e só a eles.
Sexta-feira, 20 de dezembro, foi o dia em que Luís Montenegro perdeu a confiança de muitos eleitores de direita e do centro que rejeitam em absoluto a humilhação dos imigrantes.
O que aconteceu no Benformoso é chocante e exige uma tomada de posição da parte dos portugueses.
Marcelo Rebelo de Sousa fez uma declaração crítica, embora tão cuidadosa e fria que lhe fica mal: um país de emigrantes que trata assim outros imigrantes é um asco moral.
A imigração tem de ser regulada, sim, mas isto não é regular, é arrebanhar as ovelhas tresmalhadas, esmagando sem um pingo de decência a dignidade humana daqueles pessoas — pessoas, não imigrantes. Pessoas como nós, senhor primeiro-ministro.
IN "O JORNAL ECONÓMICO" -21/12/24
NR: Dois textos com muitos endereços a começar pelo PR e PM, para os oportunistas do Estado de direito e para a nojenta extrema direita.
Como somos gente decente só temos que lhe agradecer senhor director..
Senti muita vergonha. Nunca tinha visto nada assim. Realmente “uma imagem vale mais que mil palavras “.
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