12/02/2024

RUI CARDOSO MARTINS

 .

𝗠𝗔𝗦 𝗢 𝗤𝗨𝗘 𝗘́ 𝗜𝗦𝗧𝗢? 𝗣𝗔𝗜𝗦 𝗧𝗥𝗢𝗚𝗟𝗢𝗗𝗜𝗧𝗔𝗦!



Só o que é meu                   

Esta triste e lamentável situação, suspirou Jaime.

Tive que ser operada. Tenho aqui duas chapas, disse Maria Clara, apontando a cara.

Ele só estava a defender o que era dele, assim como eu defendi o que era meu, resumiu Maria O.

Ao que chegam os pais com as brincadeiras das crianças. Violências infantis crescem e chegam à idade adulta, à selvajaria em bruto. Jaime pegou em dois capacetes de mota e rebentou a cabeça de duas mães de dois colegas do seu filhinho de seis anos, na escola primária! É o que diz a acusação. Maria O. - Ortopedia cervical, dores, estado ansioso, angústia, insónia, oito dias de doença. Maria C. - Hematoma na cara, fractura do complexo malar, zigomático direito. 149 dias de doença, 45 dos quais sem capacidade para o trabalho. No julgamento, Maria O. diz que foi levada pelas intrigas de Maria C. contra uma terceira mulher:

- Eu não tenho nada a ver com a referida questão. Só que esta senhora, que aqui estava ao meu lado, todos os dias me dizia ‘ai, esta senhora disse-me isto, esta senhora fez-me aquilo, olha, aquela senhora diz que quer bater no teu filho’.

Como começou a guerra?
- Coisas de miúdos, um que disse... outro que fez... Foi a única razão que me levou lá. Mas quero pagar o que fiz, pedir desculpa.
Porque Maria O. deu estaladas na mulher de Jaime, dias antes, é verdade.
- Uns dias depois apareceu este senhor.
- Mas a senhora não foi agredida?
- Sim. Mas acho que ele foi só defender aquilo que era dele. Assim como eu fui defender aquilo que era meu. Bati, sim senhora. Foi aquela frase de que a outra ia bater no meu filho. Porque esta senhora [Maria C.] põe a boca nos outros e depois põe-se ao lado, já é costume. No dia 13, fui levar o lanche ao meu filho. 
Quando lá cheguei, vi-a já cheia de sangue e o senhor com o capacete...
- Levou murros e pontapés na cabeça, tronco e membros?
- Não desminto, não desminto, cof, corrff (sofre ataque de asma, usa a bomba, ploc, psss, psss) Ai... Ele também se atirou a mim com o capacete, mas só estava a defender o que era dele... deu-me com o capacete e fiquei desmaiada no chão. Mas disso não quero falar.

Maria C. entra na sala e viaja às origens do caso:
- Levei um estalo dela à frente do meu filho, que me deitou logo ao chão. E ele também me espancou à frente do meu filho. O meu filho chumbou o ano porque não quis ir mais à escola. Tive de o meter num colégio particular. Com seis anos começou a gritar. E veio o senhor desnorteado e deu-me três murros e esmigalhou-me o maxilar superior. O filho dela tinha feito rasteiras três dias seguidos ao meu filho, disseram as contínuas.

Um dia, continua Maria C., disseram-lhe que a mãe do Ricardo estava lá em cima e queria falar consigo. O que lhe veio à cabeça é que ele fazia anos e queria convidar o seu filho... e afinal, não! Maria C. leva o dedo à cara, só falta bater para fazer eco no metal.

- Tive que ser operada. Tenho aqui duas chapas.
Entrou finalmente Jaime, o homem do brinco. Ele achava-se muito diferente das mulheres que o acusavam. Ele é que foi atacado, mais a mulher, por uma multidão na escola:
- Esta triste e lamentável situação... Por duas vezes eu avisei a direcção da escola, o meu filho não podia ser ameaçado, incluindo apertando-lhe o pescoço. Tivemos que mudar de casa, isto custou-me o meu divórcio, o meu filho continua a ser assistido em psiquiatria. Eu nem sei sequer o nome, quem são as senhoras.

- Bateu com os capacetes?
- Eu tinha dois capacetes, mas não. Deliberadamente, não agredi ninguém. Foi uma situação de pânico absoluto!
Uma história de terror. Dá vontade de fugir de uma escola tão primária.

* Jornalista

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"- 11/02/24.

Sem comentários:

Enviar um comentário