11/01/2024

FILIPE ALVES

 .


Caso CTT:
a explicação que
realmente faz sentido

Honra seja feita ao PCP, que nesta tragicomédia é quem fica melhor visto: por um lado, admitiu que teve conhecimento; por outro, admitiu que não deu grande importância, porque – esperemos – terá percebido que não passava de uma encenação do Governo para tentar iludir os partidos da Esquerda, como sempre à custa dos contribuintes.

Por muitas voltas que queiramos dar ao assunto, quanto mais se pensa no que está em causa no caso da compra das ações dos CTT pela Parpública, revelado esta semana pelo Jornal Económico, menos sentido fazem as explicações oficiais e as garantias, por parte de atuais e ex-governantes, dirigentes partidários e outros responsáveis.

Comecemos pelo negócio em si. Que sentido faz comprar 13% de uma empresa em bolsa, querendo manter o secretismo até chegar ao limiar dos 2% e só mais tarde pensar na melhor forma de adquirir os restantes 11%? Como é que a Parpública conseguiria aumentar a sua posição para 5% e depois para 10% sem comunicar ao mercado e sem cair no risco de fazer disparar a cotação, como disse ontem o primeiro-ministro António Costa?

A resposta é simples: a menos que a Parpública se preparasse para lançar uma OPA ou para comprar diretamente um bloco de ações a um dos acionistas de referência dos CTT – algo que politicamente seria difícil de sustentar -, pura e simplesmente toda esta ideia não faz sentido e nunca houve uma verdadeira intenção de comprar uma participação relevante nos CTT que eventualmente acautelasse o interesse público.

Outra coisa que não faz sentido é a tese que algumas fontes oficiais e oficiosas têm procurado disseminar junto das redações, procurando desmentir “em off” (ou seja, deixando que sejam os jornalistas a assumir a responsabilidade total pela informação que estão a veicular) que o tema tenha sido abordado nas negociações para a aprovação do Orçamento do Estado para 2021.

Como noticiamos nesta edição, foi o próprio vice-presidente da bancada parlamentar do PS na altura a garantir, numa entrevista ao “Eco” a 20 de novembro de 2020, que “obviamente (o controlo público dos CTT) faz parte das negociações com o PCP”. Já agora, a entrevista, muito bem conduzida pelo jornalista Tiago Varzim, tinha como título “Governo negoceia com PCP controlo público dos CTT”.

De igual modo, não faz sentido a garantia, do Bloco de Esquerda, de que não sabia desta intenção do Governo. Quanto mais não fosse, o Bloco teria sabido por via desta entrevista, que em plena negociação do OE2021 levou a uma subida de 4% das ações dos CTT na bolsa de Lisboa. Bem sabemos que o mercado de capitais não será um tema muito acompanhado na sede do Bloco de Esquerda, mas um bom serviço de clipping teria resolvido o problema.

Honra seja feita ao PCP, que nesta tragicomédia é quem fica melhor visto: por um lado, admitiu que teve conhecimento; por outro, admitiu que não deu grande importância a esta iniciativa do Governo, porque  – esperemos – terá percebido que não passava de uma encenação para tentar iludir os partidos da Esquerda, como sempre à custa dos contribuintes. E esta, caros leitores, será provavelmente a explicação que faz realmente sentido.

P.S.: Esta quinta-feira, Pedro Nuno Santos garantiu aos jornalistas que não se tratou de uma “moeda de troca” nas negociações para o OE2021, mas de seguida admitiu o seguinte: “quando há negociações para o Orçamento, sabemos qual a posição dos outros partidos. E o PCP, e também o Bloco, defendiam o controlo público da empresa”.

* Jornalista, director do "JE"

IN "O JORNAL ECONÓMICO"  - 05/01/24.

Sem comentários:

Enviar um comentário