26/12/2023

PAULO PISCO

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A extrema-direita e
o aumento da xenofobia

O ambiente político ficou tóxico desde que o Chega e André Ventura chegaram à política portuguesa. O espetáculo que dão em cada debate parlamentar é uma degradação da democracia, muitas vezes atropelando a lei e a Constituição, usando uma retórica inflamada e manipuladora, teatralizando a indignação e usando um insuportável falso moralismo.

Tal como acontece com outros partidos de extrema-direita na Europa e no mundo, os migrantes e as minorias são instrumentalizados como um dos principais meios de combate e propaganda, com indiferença perante a sua dignidade e sensibilidade. Para além da rejeição humilhante a que são sujeitos, também ocorrem situações de violência verbal ou física por parte de pessoas xenófobas e racistas, por vezes com graves consequências, por se sentirem apoiados e legitimados pela existência de uma extrema-direita que rejeita a imigração. Felizmente, uma grande maioria de portugueses considera os migrantes importantes para o país, o que honra os nossos valores humanistas e universalistas.

No último dia do ano parlamentar, o Chega marcou um debate sobre políticas de imigração. Em cada intervenção mostram a sua natureza, cada vez mais radical, mais desumana, com o objetivo de levar as pessoas a verem os migrantes como uma ameaça e, ao mesmo tempo, culpar o Governo por um suposto descontrolo na gestão da imigração.

Na verdade, o que queriam era ter mais um momento de teatro, de gesticulação frenética e de gritaria, com provocações e falta de respeito pelas outras bancadas e pelo Parlamento. Ao falarem dos supostos perigos da imigração, tentam incutir medo aos portugueses, associando os migrantes ao terrorismo, à criminalidade, à pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde, à miséria social, mentindo e pervertendo a realidade e promovendo assim o racismo e a xenofobia.

Mas isto tem consequências na sociedade, que se torna mais agressiva, ríspida, intolerante. Leva à crispação e a confrontos, como recentemente aconteceu na Universidade do Minho, demonstrando bem como o discurso do ódio dos extremistas pode ser o motor para situações de agressão. O incidente ocorreu dentro da Universidade, com um português que agrediu verbalmente e fisicamente uma estudante brasileira, durante o que era suposto ser um encontro para fazer um trabalho de grupo. Um homem deu um murro no rosto e pontapés a uma mulher e injuriou-a dizendo para ela voltar para o seu país, num ato grosseiro de xenofobia e misoginia, sem se preocupar com as consequências para a vítima nem para a imagem da universidade, que compete com outras na atração de estudantes estrangeiros.

E, por isso, um grupo de deputados do PS fez um pedido de esclarecimento à universidade. Com a intenção de tentar perceber que consequências uma situação como esta pode ter, mas acima de tudo para fazer pedagogia, denunciando o caso, para prevenir que outros ocorram e porque os atos xenófobos constituem uma violação da lei e dos direitos fundamentais. Portugal tem o dever de acolher bem e integrar na sociedade os cidadãos estrangeiros, fundamentais para o nosso desenvolvimento económico, tal como desejamos que sejam tratados com respeito e dignidade os milhões compatriotas que ao longo de várias gerações emigraram. E é preciso sublinhar que, ao contrário do que diz a extrema-direita, os migrantes não vivem de subsídios, nem vêm roubar empregos a ninguém. São mesmo pagos abaixo dos restantes trabalhadores, são explorados por alguns empregadores sem escrúpulos e são fundamentais para vários ramos de atividade, incluindo na área da saúde. Alguns setores entrariam mesmo em colapso se não fossem os imigrantes.

* Deputado do PS

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