07/04/2023

JESSICA PACHECO

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Um elevador social muito desigual

Os dados do último relatório único do Observatório do Emprego revelam, novamente, as desigualdades salariais entre mulheres e homens nos Açores, que são a região mais desigual do país e a segunda com o maior risco de pobreza. As mulheres são as que mais sofrem para sair deste ciclo.

Os dados do último relatório único do Observatório do Emprego revelam, novamente, as desigualdades salariais entre mulheres e homens nos Açores, com as mulheres a auferirem uma remuneração média inferior à dos homens que varia entre 92,43€ e 706,60€, no caso dos quadros superiores.

Comparando dois funcionários licenciados, um homem e uma mulher, a remuneração desta última é inferior em 413,82€, uma situação injustificável e que perdura há demasiado tempo.

Se a educação é realmente um elevador social, não podemos aceitar este cenário em que as mulheres partem do -3 e os homens do piso 0. É preciso equilibrar este elevador e tornar o caminho de ambos justo.

Para além disso, existem apenas 35% de mulheres nos Açores a exercer cargos dirigentes, diretores e gestores executivos. E curiosamente a participação das mulheres, em Portugal, nestes tipos de cargos e mesmo na política está sempre na casa dos 30%. No parlamento dos Açores temos apenas 33% de mulheres (deputadas), na Assembleia da República temos apenas 37% (deputadas), no entanto a população açoriana e portuguesa é constituída por 51% e 52% de mulheres, respetivamente. Ou seja, há claramente um caminho a ter de ser feito para diminuir esta diferença e encurtar o caminho que nos separa dos homens nestes cargos.

E porque é que isto é importante? Em primeiro lugar para garantir que as mulheres tenham uma voz ativa na sociedade e para travar possíveis retrocessos legislativos que coloquem em causa os direitos até agora adquiridos.

Em 2022, o Supremo Tribunal do Estados Unidos da América decidiu acabar com o direito ao aborto, acabando com meio século de proteções constitucionais. Este tribunal, dominado por conservadores, passou a colocar nas mãos de cada estado a decisão sobre o corpo de cada mulher e o seu direito a interromper a gravidez. Mas o eco em Portugal não tardou, com a tentativa de se criar um sistema de avaliação médica que prejudicava os médicos cujas utentes decidiam realizar a interrupção voluntária da gravidez (IVG), por considerarem ser um erro no acompanhamento do seu planeamento familiar.

Por isso, precisamos de mulheres que lutem na sociedade e na política para não haver retrocessos e para que sejam conquistados mais direitos para garantir um caminho de igualdade.

No ano passado, em Portugal, 1400 mulheres grávidas ou a amamentar ficaram sem contrato por falta de renovação, foram dispensadas em média 3 trabalhadoras por dia nestas condições.

São estes números que mostram claramente que são as mulheres as mais penalizadas no mercado de trabalho e que têm de decidir entre o seu sustento ou adiar sucessivamente a maternidade. Quantas mulheres adiaram a maternidade para ter uma carreira ou uma situação laboral estável?

Os Açores são a região mais desigual do país e a segunda com o maior risco de pobreza. As mulheres são as que mais sofrem para sair deste ciclo. Falar em independência económica é falar em auto-motivação e capacidade de decisão sobre a sua vida. Precisamos de todos nesta luta, de homens e mulheres. Não baixem os braços e não permaneçam em silêncio.

* Enfermeira e presidente da VegAçores-Associação Vegana dos Açores.

IN "ESQUERDA" -07/04/23.

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