15/02/2023

RODRIGO SARAIVA

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Com quem se deitará o PS

É perfeitamente natural e legítimo que os eleitores se questionem sobre o que podem esperar dos partidos em que votam. Antes e depois de cada acto eleitoral.

Durante as campanhas, tudo costumava ser claro. Esta regra foi quebrada em 2015, quando António Costa chegou ao poder sem vencer as legislativas e fechou acordos pós-eleitorais com três partidos (BE, PCP e PEV) que nunca tinham mostrado abertura para viabilizar executivos socialistas, nem o PS havia admitido poder governar com eles.

Que fique claro: os acordos pós-eleitorais em 2015 foram formalmente legítimos e, mesmo quem não tenha gostado da solução, enquanto democrata, deve entendê-los como um amadurecimento da nossa democracia.

No entanto, nessa campanha que levou António Costa ao poder, a falta de clareza, quer dos partidos que não o anunciaram antes, quer dos eleitores, jornalistas e comentadores que não questionaram as possíveis alianças, defraudou as expectativas de muitos eleitores do próprio PS.

Isto aumentou a desconfiança dos portugueses em futuras campanhas eleitorais. E reforça a necessidade de rigoroso escrutínio dos partidos por parte de quem se move junto à cena político-partidária. Torna-se até uma exigência de cidadania.

Há uma grande lição a extrair daquele processo eleitoral que inaugurou o ciclo político marcado pela geringonça. É fundamental sabermos, tão cedo quanto possível, que alinhamentos pós-eleitorais se desenham nos diversos quadrantes.

Por isso, encaro com naturalidade que desde já se multipliquem as perguntas sobre acordos posteriores à contagem dos votos, apesar de estarmos, em princípio, a mais de três anos de distância das próximas legislativas.

A Iniciativa Liberal tem sido muito clara. No actual espectro parlamentar, só com o PSD é viável o diálogo com vista a possíveis entendimentos após as eleições, sejam de incidência parlamentar ou de eventual participação num futuro executivo. Os restantes partidos ficam excluídos por motivos diversos, mas com um traço comum: todos são estatistas e despesistas.

O PSD é interrogado todos os dias a este respeito, mas verifico, com alguma surpresa, que ninguém dirige a mesma questão ao PS. Não importaria saber a partir de agora qual será a futura política de alianças dos socialistas?

É bom que não se repitam as omissões, as ambiguidades e os silêncios de 2015. Pela minha parte, pergunto: com quem se deitará o PS depois das próximas eleições, ao despedir-se da actual maioria absoluta? Voltará a fazer coligações, formais ou informais, com partidos extremistas que combatem a economia de mercado, a NATO, são contrários ao sistema monetário europeu e, no caso do PCP, alinham com Moscovo na agressão à Ucrânia? O PS europeísta de Mário Soares terá ficado definitivamente na gaveta?

São perguntas cruciais aos dois partidos que têm disputado o primeiro e o segundo lugares nas eleições, embora outras devam ser feitas. Não basta questionar PS e PSD sobre possíveis parceiros "conjugais". Devem ser igualmente interrogados sobre que soluções estão dispostos a viabilizar, com cedências recíprocas, caso um deles possa formar governo sem recorrer a forças extremistas. Haverá linhas vermelhas ou cordões sanitários? E a troco de quê? Pode estabelecer-se um pacto governativo em torno disto?

Bem sabemos como o PS de António Costa tem imensa dificuldade em dar respostas, o que não nos dispensa de fazer perguntas, de exigir esclarecimentos e de manifestar reservas. Quanto mais depressa houver clareza na definição dos cenários, tanto melhor. Saber com quem cada um está disposto a deitar-se é o mínimo que podemos exigir.

* Deputado à A.R. pela Iniciativa Liberal

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" -13/02/23.

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