01/02/2023

EURICO CASTRO ALVES

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Errar é humano,
insistir é estultícia!

Uma condição essencial que abala o SNS é a má distribuição de recursos, sejam eles humanos ou técnicos.

Atualmente é possível avaliar e antecipar, com um razoável grau de certeza, as necessidades de cuidados de saúde para cada região do nosso país. Ainda assim, não está a ser conseguida uma resposta adequada. Deve ser um desígnio da equipa que governa a Saúde, garantir definitivamente que todos os habitantes em Portugal, independentemente do seu local de residência, da sua condição social, educacional ou da sua capacidade económica, tenham acesso aos cuidados de saúde mais adequados às suas necessidades.

Está na altura de o SNS usar a sua capacidade de forma organizada, com visão e sem preconceitos ideológicos, distribuindo estrategicamente os recursos existentes, socorrendo-se quando necessário do poder de contratualização com os outros setores, podendo assim, também, assegurar as necessárias condições de atratividade para a fixação de recursos humanos.

Uma questão não menos relevante é a gestão da informação clínica. A criação de um registo de saúde único, a partir do qual um médico pode aceder ao historial clínico do doente, quer o seu percurso seja no SNS ou fora dele, é uma necessidade urgente e é um caminho para pôr fim à dispersão que em nada facilita a decisão clínica, a partilha de informação ou a otimização de recursos.

O sucesso de um sistema de saúde começa nos cuidados primários, aqui se diagnostica, se orienta, se monitoriza, se educa e se previne. E nesta matéria o pleno funcionamento de uma rede de cuidados de proximidade tem de ser um objetivo prioritário. Proximidade é a palavra-chave para as políticas de saúde dos tempos modernos. A maior parte das carências em saúde pode ser resolvida com cuidados de proximidade. Uma parte menor, muito embora numa dimensão não despiciente, exige alta diferenciação tecnológica e esta encontra-se acautelada numa rede hospitalar que tem sido relativamente eficaz, com exceção do atendimento da urgência.

Para os cuidados de proximidade dispomos do ingrediente principal que consiste em médicos especialistas de medicina geral e familiar, muito bem preparados e que disso já estão a dar provas todos os dias em todo o Portugal. Só falta organização inteligente dos recursos e não errar nos princípios.

Errar é pensar que aumentando o número de doentes por médico de família se resolve o problema da falta de médicos.

Errar é pensar que médicos especialistas em medicina geral e familiar podem ser substituídos por quem não é especialista.

Errar é pensar que se pode ter serviços de excelência remunerando-os abaixo do limiar da dignidade.

Errar é humano, insistir no erro é estultícia. Espero, pois, que se não repitam os erros de um passado recente.

*  Médico

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"- 31/01/23.

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